Loriga o que foi e o que é
no atual
Ao visionar nas
redes sociais, esta interessante e oportuna rubrica, não podia deixar
de aqui registar, porque na verdade nos dá uma visão mais que
certa da nossa "Loriga
o que foi e o que é no atual" da
autoria do mosso conceituado loriguense e historiador,
António Luís de Brito,
que aqui saúdo ao nos proporcionar esta sua leitura, que vale a pena
ler e reler.
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LORIGA PARA ONDE CAMINHAS ?
Não é
necessário pensar muito, nem ouvir os mais letrados, que por força
do amor loriguense, vão urdindo algumas teias, por vezes difíceis
de tramar, cujo resultado, é o que temos presente.
A propósito desta notícia, publicada não sei onde, e em
que jornal veio à estampa, no já distante ano de 1956, decorridos
pois cerca de 70 anos. Nela se informa que Loriga tinha nesse tempo 500 (Quinhentos)
alunos a frequentar o ensino primário. Além dos professores já
efetivados que recordo: Alice Almeida Abreu, Irene Almeida Abreu, Alberto Pires
Gomes, António Domingos Marques, Mª Helena Reis Fernandes Leitão,
e Ilídia Nunes Pina, e outros que colocados ocasionalmente que ficavam
um só ano, caso do Prof. Carvalho, que nos deixou enorme pena a sua
partida, pois na nossa memória ficou a linda e artística récita
teatral, enredada na história de Portugal, levada à cena pelos
alunos no Salão Paroquial, ainda em obras de finalização.
Aí pelos anos de 1949/50.
Já no ano de 1956 como refere a notícia aqui descrita, são
colocados mais os seguintes Professores: Adelino Moura Galvão, José
Coutinho Cunha, Helder Rodrigues Teixeira, Mª de Fátima Costa Ambrósio,
Mª Armanda Fonseca Almeida, e Mª Aurora Correia Batista Barreto,
que totalizavam 12 docentes do ensino primário. Procura-se como foi
possível encontrar instalações, para 500 alunos. Foi muito
difícil conseguir. Na escola da Fonte do Mouro, 2 manhãs e 2
tardes, 4 prof., Na escola da Praça 3 salas, 3 manhas e 3 tardes 6 prof.
Até nos Passos do Senhor na loja que foi do cavalo do Sr. Joaquim Lisboa,
serviu para aulas.
Não se adivinhava que Loriga viesse a sofrer a enorme razia a que assistimos.
Trabalhavam todas as 7 fábricas de lanifícios, 3 oficinas de
serralharia, fábrica de malhas, 3 padarias, 3 fornos comunitários,
várias lojas que vendiam de tudo um pouco do que se procurava na terra,
4 barbearias, uma camionagem de transportes, carros de aluguer, 3 construtores
civis, e até para tratar das almas na fé, tivemos 3 padres residentes.
Causas? são muitas e diversas. Logo a 1ª geração
de industriais ainda formou os filhos para a industria, a 2ª geração
preparou os filhos para saírem de Loriga, os filhos dos operários,
a partir dos seminários, seguiram as mesmas pisadas, a guerra colonial,
fez os seus estragos e a emigração levou os restos. Ficaram apenas
aqueles que da terra lhe custou arredar.
Do que possuíamos ficou a fábrica das malhas, que aqui deixo
o meu apreço, que sendo orientada pela família Cabalhanas de
Alvoco da Serra, a têm conduzido com saber, apesar de não terem
nascido no meio da lã, como nós o fomos. Também a serralharia
do Engº. Joel Silva-Metal, Lda, que têm dado boas provas lutando
com muita falta de pessoal capacitado, e pelo que sei tiveram já de
recorrer a imigrantes indianos. Também ficamos com a Loripão
do Fernandinho, que nos coze o pão e nos adoça a boca, a ele
também vai o meu apreço. E temos assegurada a Assistência
Social. Valha-nos Deus ! E os nossos Bombeiros Voluntários, que Deus
os proteja também.
No que chegamos: Perdemos a Escola C+S, "a
joia da Coroa"
o Sindicato dos Lanifícios, o Socorro Paroquial a Cooperativa Popular
Loriguense, e agora os médicos, que os tivemos durante muitos anos e
residentes. Perdemos efetivamente muito do que eramos. Dizia o Padre Prata
nas homilias que nesse tempo Loriga tinha cerca de 900 fogos, contavam-se perto
de 3.000 residentes, hoje apenas cerca de 800 residem, na sua grande maioria
reformados. Têm falecido cerca de 30 loriguenses anualmente, já
os nascimentos são 0 ou 1, não temos casais em alturas de poderem
virar a situação muito deficitária. Esperamos pelo Turismo
! Talvez sim talvez não...
Sabemos uma coisa: Os nossos cemitérios estão cheios, e as casas
de habitação na Vila a vagar, e os loriguenses que consideramos
de ricos, há muito venderam as suas casas aos emigrantes, restam poucos.
Fomos capazes de criar a Analor em Sacavém, que aplaudo, mas esquecemos
criar uma Associação de Melhoramentos.
Estamos a pagar bem caro o preço da interiorização e desertificação,
ao menos se nos restituíssem o concelho, que nos roubaram e que tivemos
em mais 300 anos. Vamos acreditando num Relvas !!!
António Luis
de Brito |