Nossa
Senhora da Guia |
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Nossa Senhora
da Guia
Padroeira dos Emigrantes
Festa Anual que se realiza no 1. Domingo de Agosto |
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Senhora da Guia
Nossa Mãe clemente
Protegei Loriga
Iluminai sua gente. |
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-A devoção a Nossa Senhora
da Guia começou a ter uma maior implantação em Loriga, nos anos
antecedentes a 1884, ano da construção da primeira capela.
-Os negociantes Loriguenses de lã, nas suas viagens pelo Minho, viram junto
à Foz de um rio uma ermida em honra dessa Virgem e desde logo pensaram também
poderem ter na sua terra uma capela em sua honra.
-O local onde está situada a capela de Nossa Senhora da Guia, era outrora conhecido
pelo monte de "Gemuro"
-A primeira festa em honra de N.S.da Guia foi realizada em 6 de Outubro do ano 1884,
e desde então passou a ser realizada todos os anos no 1º. Domingo de Agôsto.
-Apenas no ano de 1939 a festa não foi realizada, por motivo de um contencioso
existente entre o Pároco da época e os seus paroquianos. |
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Pintura em honra a Nossa
Senhora da Guia (2003)
Autora:-Maria do Anjos Fernandes Gomes Antunes |
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Nossa Senhora da Guia - Padroeira do Emigrantes |
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A Imagem da Virgem da Nossa Senhora
da Guia de visita à Igreja Paroquial, o que acontece uma vez por ano, quando
da Festa em sua honra. |
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Hino em Homenagem
a Nossa Senhora da Guia |
Verso 1
Vós sois o lírio mimoso
Do mais suave perfume
Que ao lado do Casto Esposo
A castidade resume |
Verso 2
De vossos olhos e pranto
É como gota de orvalho
Que dá frescura e encanto
À flor pendente de galho |
Verso 3
Se em vossos lábios divinos
Doce sorriso desponta
Nos esplendores dos hinos
Nossa alma aos pés se remonta |
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Coro
Ó Padroeira amorosa
Clara estrela Mãe Pia
Dai-nos a Benção bondosa
Virgem Senhora da Guia |
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Verso 4
Vós sois a flor da inocência
Que nossa vida embalsama
Com suavíssima essência
Que sobre nós se derrama |
Verso 5
Quando na vida sofremos
A mais atroz amargura
De vossas mãos recebemos
A confortável doçura |
Verso 6
Vós sois a ridente Aurora
De divinais resplendores
Que a luz de fé revigora
Em nossas lutas e dores |
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Verso 7
E lá da Celeste altura
De vosso Trono e luz
Dai-nos Paz e ventura
Do vosso Amado Jesus |
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Breve Apontamento da História
deste hino à Nossa Senhora da Guia * |
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O cântico "Ó
Padroeira Amorosa" cantava-se e ainda hoje se canta à Senhora
da Nazaré na cidade de Belém-Pará-Brasil. |
A história
da introdução do cântico "Ó Padroeira
Amorosa" na Festa da Nossa Senhora da Guia em Loriga remota ao
ano de 1950.
Nesse ano e de visita à sua terra, o loriguense Sr. António
Nunes Brito, emigrado na cidade de Belém -Pará, em conversa
com o Senhor António Pinto Ascensão, então maestro
da Banda Filarmónica de Loriga, falou no referido cântico,
e desde logo surgiu a ideia de o adaptar à Nossa Senhora da
Guia.
O Senhor António Pinto Ascensão escreveu-o para a Banda
e passou desde então a cantar-se "Ó Padroeira Amorosa"
Hino da Nossa Senhora da Guia.
Apenas foi alterado o refrão de "Senhora de Nazaré"
para "Virgem Senhora da Guia", mas as estrofes são
iguais. |
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Em Belém-Pará
Brasil canta-se assim:
Ó Padroeira amorosa
Fonte de amor e de fé
Dai-nos a benção bondosa
Senhora da Nazaré |
Em Loriga canta-se assim:
Ó Padroeira amorosa
Clara Estrela, mãe pia
Dai-nos a bênção bondosa
Virgem Senhora da Guia |
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* Registo
de Arquivo de António Pinto Ascensão. |
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Recinto da
Nossa Senhora da Guia no tempo |
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Canção
dedicada à Nossa Senhora da Guia |
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Só, a fé em Vós,
aqui nos traz
Junto do andor, Virgem Maria
Vós sois a bondade e sois a paz
A luz que brilha e nos guia
Nossa Mãe, Senhora da Guia.
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Avé, Avé, doce Mãe
Agora que estamos Convosco
Unidos na Procissão
Nós seguimos-te com devoção |
Avé, Avé, doce
Mãe
Vós sois alegria e a bonança
A Santa Mãe de Jesus
Nossa guia e nossa esperança |
Avé, Avé, doce Mãe
Aqui juntos à profia
Escutai a nossa mensagem
Neste dia de festa e romagem
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A infância, outrora,
aqui passada
Sempre nos levou a recordar
Vossa bela imagem imaculada
Por todos nós venerada
No Andor ou no Altar.
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Ave, Avé, doce Mãe
Que a Vossa estrela brilhante
Ilumine o nosso povo
E também os nossos emigrantes. |
Avé, Avé, doce
Mãe
Dai-nos um coração p´ra amar
Saúde e sabedoria
E o pão nosso de cada dia.
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Avé, Avé, doce Mãe
É tempo de testemunhar
Que somos todos irmãos
E a todos unir nossa mãos. |
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Avé, Avé doce Mãe
Agora e pela vida inteira
Protegei a nossa Terra
Mãe do Céu, nossa Padroeira. |
Versos
do Loriguense Carlos. A. Pinto (Agosto 1988) - Adaptados
à música da canção "Joana" de Marco Paulo |
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Verso
a Nossa Senhora da Guia* |
Antes de adormecer
Louvo-te em sons musicais
Como canto de pardais
Que oiço ao amanhecer
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É em ti que
me protejo
Se me sinto sem abrigo
Sei que estás sempre comigo
Dás a mão quando fraquejo
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Para mim és
mais que guia
És a luz no meu dia-a-dia
Está em tudo que faço
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Se vejo teu rosto sorrir
Vou como criança a fugir
Abrigar-me em teu regaço.
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* Agosto de 2005 -
Adélia Lopes |
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Loas
a Nossa Senhora da Guia |
É secular a Festa em honra de
N. S. da Guia que todos os anos se realiza nesta localidade.
A primeira festa realizou-se no dia 6 de Outubro de 1884 e, a partir daí passou
a ser realizada sempre no primeiro domingo de Agosto, fazendo atrair a Loriga muitos
forasteiros, principalmente muitos dos Loriguenses ausentes por outras paragens.
Com a aproximação desta festa é tradição as pessoas
na Vila cantarem as Loas que o povo um dia fez à sua padroeira.
Das muitas Loas existentes aqui se recordam algumas delas:
Estando eu em minha
casa
Assentada a uma janela
Deitei os olhos ao longe
Vi uma linda capela!...
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Nossa Senhora da Guia
Dizei-me onde morais?!
-Moro p´ra além da catraia
No meio dos pinheirais
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Nossa Senhora da Guia
Mandou-me agora chamar
Deixa-me lá ir depressa
A ver o que me quer dar
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Nossa Senhora da Guia
À vossa porta cheguei
Tantos anjos me acompanharam
Como de passos eu dei
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Nossa Senhora da Guia
Quem vos varreu o terreiro?!
-As meninas de Loriga
C´um raminho de loureiro
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Nossa Senhora da Guia
A vossa ladeira mata
Dai saúde os brasileiros
Que deram a cruz de prata
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Nossa Senhora da Guia
Ela lá vem no andor
Com o seu menino ao colo
Que parece um esplendor |
Nossa Senhora da Guia
Ficou à porta a chorar
Recolhei-vos, Mãe de Deus
Qu´inda cá hei-de voltar!..
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Nossa Senhora da Guia
Rosa branca em botão
Dai saúde aos brasileiros
Que deram o pavilhão.
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Nossa Senhora da Guia
Sois uma estrela brilhante
Dai saúde aos portugueses
São um povo navegante.
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Nossa Senhora da Guia
Rosa branca encarnada
Até ao cimo da França
Chega a vossa nomeada. |
Nossa Senhora da Guia
Arrendai a Carvalhinha
Arrendai-a por dinheiro
Que a sombra dela é minha.
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Nossa Senhora da Guia
Tem o manto a fazer
Cheio de pérolas d´oiro
Ai tão lindo que há-de ser!..
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Nossa Senhora da Guia
Mandai-nos tempo alegre!..
Há quatro dias que chove
Água fria como a Neve.
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Nossa Senhora da Guia
Tem um tear à janela
Dá-lhe o vento, dá-lhe a chuva
Todo o fiado lhe quebra...
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Nossa Senhora da Guia
Ai minha boa Mãezinha!..
Eu já fui a vossa casa
Vinde Vós agora à minha
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Nossa Senhora da Guia
Quem te deu esse vestido
Foi um homem em Lisboa
Que no mar se viu perdido. |
Vi uma linda capela
Procurei de quem seria
Um anjo me anunciou
Que era da Senhora da Guia
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Nossa Senhora da Guia
Que dais a quem vos vem ver?!
-Aos casados, paz e alegria
Aos solteiros, bom viver
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Nossa Senhora da Guia
Tem o caminho de giestas,
Bem podias vós, Senhora
Tê-lo de rosas abertas |
Nossa Senhora da Guia
Hoje aqui vos venho ver
Já que me destes saúde
Estando eu para morrer |
Nossa Senhora da Guia
Quem vos varreu o balcão?!
-As meninas de Loriga
C´um raminho de sarpão
|
Nossa Senhora da Guia
Tem uma redoma de vidro
Que lha deu um brasileiro
Que andava no mar perdido |
Nossa Senhora da Guia
Tem uma estrela na mão
Que lha deu uma menina
No dia da comunhão |
Nossa Senhora da Guia
Precisais lá de um jardim
Uma fonte para o regar
Um repuxo de marfim.
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Nossa Senhora da Guia
Sois uma roseira branca
Quando nascestes no mundo
Logo foi para ser Santa. |
Nossa Senhora da Guia
Por detrás do seu altar
Tem garrafinhas de vidro
Deitando águas ao mar. |
Nossa Senhora da Guia
Pequenina e Airosa
Vem a gente de tão longe
Só p´ra vêr tão linda Rosa.
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Nossa Senhora da Guia
Arrendai o pinheiral
Arrendai-o por dinheiro
P´ra ajuda do arraial. |
Nossa Senhora da Guia
Ela lá em cima vem
Com o seu menino ao colo
Seus cabelos ao desdém.
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Nossa Senhora da Guia
Mandai sol quer chover
Que se molham os efeitos
Das moças que vos vão ver.
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Nossa Senhora da Guia
Combatida pelo vento
Tem as suas portas viradas
P´ro Santissimo Sacramento.
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Nossa Senhora da Guia
Sois a mais bela das flores
Lembrai-vos sempre de nós
Terra Mãe dos pecadores. |
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Estas Loas
à Nossa Senhora da Guia foram publicadas em 1958 |
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Medalha
do Primeiro Centenário das Festas em Honra de Nossa Senhora da Guia |
Loriga 1884-1984
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Centenário da Festa da N. S. da Guia (dias
2, 3, 4 e 5 de Agosto de 1984) |
Aqui se documente como registo a Mordomia
(1982-1986) da Nossa Senhora da Guia, quando da celebração do Centenário
das Festas (1984) |
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1 - Orestes Gomes Aparício
2 - António Ferreira Penas
3.- Carlos José Brito Moura
4 - Joaquim Lemos Conde
5.- José Jorge Romano
6.- José Mendes Dias Aparício
7.- José Simões Moura
8.- António Ferreira da Silva
9.- Carlos Lucas Antunes Fernandes
10.- Emílio Lopes Brito
11.- Adelino Manuel Martins de Pina |
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Mensagem Centenária do Pároco
de Loriga *
(Aquando das Comemorações do Centenário da Festa) |
É numa hora de sublime exultação
e de extraordinária alegria que vos dirijo a minha palavra de Pároco
e pastor das vossas almas.
Na verdade, se todos os anos vemos aproximar-se o primeiro Domingo de Agosto com a
nossa alma a transbordar de Fé e de Júbilo, desta vez os nossos sentimentos
de confiança e amor à Virgem Nossa Senhora da Guia crescem de forma incomensurável.
É que se vão completar 100 anos desde que a festa a Nossa Senhora da
Guia começou a celebrar-se em Loriga.
E, logo no inicio, vós tomastes por Vossa Padroeira, Padroeira dos Emigrantes,
Padroeira dos Emigrantes, que então como ainda hoje, mourejáveis em grande
número por Terras de Santa Cruz.
Depois, por circunstâncias da vida, muitos vos ausentastes para outros países
e para outras terras do nosso Portugal. Mas a vossa devoção a Nossa Senhora
da Guia não esmoreceu; ela tem crescido sempre nas vossas almas, Loriguenses
Amigos, os que emigrastes e os que ficastes.
Pedimos por vós à Senhora da Guia, lembraremos as vossas necessidades
espirituais e corporais, sobrenaturais e naturais, as vossas mais urgentes intenções,
em especial na Santa Missa da festa.
Como Nossa Senhora ficará contente e vos proporcionará a sua celestial
protecção e bênção ao celebrardes piedosamente a
sua festa pela centésima vez!
Ela nos trouxe Jesus, o "Caminho, a Verdade e a Vida", e continua agora a
encaminhar-nos a Ele. Sempre chegamos a Jesus por Maria. Pois que, nesta altura de
tão solene e grande centenário da Sua Festa - se Ela é nossa extremosa
Mãe, mostremos nós ser seus verdadeiros e devotos filhos, sejamos quem
formos e seja onde for que nos encontraremos.
Que o nosso amor, a nossa devoção e dedicação, a nossa
fé e confiança para com Ela cresçam nesta festa centenária!
E Ela continuará também a ser sempre a nossa Mãe, tão boa
que quer e tão poderosa que pode encher-nos de todas as graças do Senhor.
Não são bons os momentos que atravessamos. Mas com Ela que poderemos
temer?
Saúdo-vos a todos, com a maior estima e dedicação, o vosso Pároco
sempre muito amigo nos Corações de Jesus e Maria. |
* Padre Francisco Borges de Assunção |
http://nsdaguialoriga.com.sapo.pt/n_s_guia.htm |
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O Pavilhão e a Sineta da
Senhora da Guia e o Fogueteiro
(Aquando das Comemorações do Centenário da Festa) |
A "Comissão do Santuário de Nossa Senhora da Guia", de Loriga,
pediu-me que escrevesse umas palavras para um opúsculo a publicar pela Mordomia
em exercício, considerando ela completar-se neste ano de 1984 um século
desde a primeira vez que a Vila de Loriga celebrou a Festa de Nossa Senhora da Guia,
Padroeira dos Emigrantes.
Não estou devidamente documentado para escrever sobre o assunto de tamanha responsabilidade
como este do "Centenário de Nossa Senhora da Guia".
As palavras voam, os escritos ficam. Assim diziam os latinos: "Verba volant, scripta manent". O nosso povo "agarrou" este sábio provérbio
(acaso noutro sentido) e diz com profunda sabedoria: "Palavras, leva-as o vento.
É mais difícil serem levados pelo vento os escritos, embora possa parecer
o contrário.
Mais difícil ainda, serem levadas pelo vento as obras.
Quantas obras realizadas nestes cem anos de vida por tantos Loriguenses, por tão
grande número de emigrantes! Olhemos para esses fontanários da Vila de
Loriga. Contemplemos nas procissões da nossa Terra aquela famosa "Cruz de Prata"
que enche de orgulhosa alegria os Loriguenses. Fixemos os olhos naquela venerada Imagem
de o Santa Maria Maior, Orago da Freguesia de Loriga, oferecida pelo senhor Augusto
da Costa Madeira, que conheci. Olhemos para o belo altar de mármore da Capela
de Nossa Senhora da Guia, e para o enquadramento desse altar.
Fixemos ainda os olhos naquela antiga placa de ferro fundido que nos habituámos
a ver no coreto da Senhora da Guia, desde pequenos. Placas como esta e com outros nomes
de Loriguenses que amaram a sua terra e manifestaram entranhado amor a Nossa Senhora
da Guia, poderiam multiplicar-se. Quantos anónimos na história de Loriga!
Ainda hoje lemos comovidamente os nomes gravados naquela placa colocada no coreto da
esplanada da Senhora da Guia. MAS eu prefiro usar a linguagem dos recuados dos tempos
da minha infância e dizer como diziam então os meus companheiros daqueles
bairros da nossa Velha Loriga desde a Redondinha ao Porto, passando pela Carreira,
Bairro de São Ginês, Fonte da Almas, Amoreira, Reboleiro, Praça,
Pelourinho, Terreiro do Fundo, Fonte do Vale, Vinhô e Lages.
Todos falávamos do "letreiro" que estava no
"pavilhão" do "terreiro da Senhora da Guia". Esse letreiro começava a ser lido por nós,
pequenitos, a título da experiência para ver se já éramos
capazes de dar provas de que o Senhor Professor Pedro Almeida e sua distintíssima
filha Senhora Dona Alice ensinavam, de facto, a ler. E ensinavam.
Às vezes, depois da leitura do "letreiro do pavilhão", dizia
um dos "leitores", esfregando as mãos contentes e dando saltos de
alegria: Eh! Rapazes! Eu já sei ler os letreiros do pavilhão!
Começava a descoberta de um mundo novo atrás da leitura, E quem ensinava
a descobrir esse mundo novo? O Professos, a Professora de Instrução Primária.
Foram alguma vez devidamente apreciados os professores que no nosso País ensinam
as primeiras letras? Feliz a criança que encontrou no seu caminho um bom professor
de Instrução Primária! Toda a sua vida escolar ficou facilitada.
Mas, como crianças que éramos, logo deixávamos o "letreiro do pavilhão" e voltávamo-nos para aquela sineta da capela da Senhora
da Guia. Fazíamos dela o nosso "carrilhão" festivo, quando
se aproximavam as Festas de Nossa Senhora da Guia. A sineta estava alta. O acesso não
era fácil. Mas a "necessidade aguça o engenho". E nós
sentíamos necessidade de tocar naquela sineta. Era a nossa maneira de nos exprimirmos.
Entretanto, por toda a parte, nas casas, nos campos, na ribeira, e às vezes,
até nas fábricas de lanifícios, povo de Loriga cantava "a
Senhora da Guia". As loas que o povo de então cantava com grande entusiasmo,
ainda hoje algumas Loriguenses as vão cantarolando por aí.
O folclore religioso que acompanhava, em certa medida ao ritmo da Liturgia, as festas
da Igreja, era uma das grandes riquezas da nossa Vila de Loriga.
E a alegria que sentíamos quando chegava o
"fogueteiro" para preparar
o "arraial? Os da minha idade lembram-se como eu me lembro. Então é
que a sineta nunca mais parava. E quantas vezes se ouvia a voz de uma mãe que
dizia: "Credo"! Aquela sineta nunca mais se cala! E deve ser o meu rapaz
que anda prá lá, pró terreiro da Senhora da Guia. Se calhar até
lá comeu com o fogueteiro. Ah! Velhaco! Quando chegares a casa, eu te coçarei!
E, às vezes, assim era.
De uma coça que levei, por ocasião da festa, me lembro eu. Quem ma deu
foi minha mãe, que Deus haja.
Eu era pequeno de 8 ou 9 anos. Gostava dos meus amigos e vizinhos. Mas, já dizia
alguém, "ele há
horas do Diabo!" E há
mesmo. Eu, miúdo tive uma dessas horas por ocasião da Festa de Nossa
Senhora da Guia. Numa dessas horas do Diabo, tirei a minha mãe umas moedas e
lá fui para a Senhora da Guia com alguns amigos e vizinhos, entre os quais o
Hermínio do Senhor José da Cabreira, que em paz descanse. Convidei-os
para irmos ao "botequim" que estava circulando a carvalha junto da casa do
fogueteiro. E lá comprei uns comes e bebes, sobretudo para os "meus convidados".
Eu, valha a verdade, pouco comi, e quase nada bebi, mas um dos meus amigos ficou de
tal maneira que estando em frente de uma garrafa começava a ver duas. Eu, não
cheguei tanto.
O que eu "comi" foi em casa uma forte bofetada justamente dada por minha
mãe, e uma fortíssima repreensão cheia de bom senso e de ternura
que me ficou na memória para toda a vida.
Fui diferente do meu primo Padre Herculano. Ele, quando criança, tirou à
mãe dois tostões para os dar a São Sebastião. Eu, tirei
à minha mãe para me "banquetear"
com os meus amigos na festa da Senhora
da Guia.
Que saudades desses tempos que já lá vão!
|
Como eu gosto de cantar esta canção: |
"Oh minha terra onde eu nasci!
Quantas saudades eu tive de ti!
Amor redobra com as saudades.
Tu és pr'a mim o doce toque das Trindades!" |
E como gosto da quadra seguinte, que
me recorda esses tempos de menino meu padrinho e avô materno carinhosamente me
fazia os piões com que eu gostava de jogar! |
" Eu quero ouvir os teus pardais
ao desafio!
Quero sentir a sombra amiga do estio!
E teus folguedos reviver com emoção.
Ó pião da minha infância, vem de novo à minha mão." |
Quantas coisas eu teria para dizer
desses tempos de criança quando, com outras crianças e em Loriga, eu
jogava o meu pião feito pelas carinhosas mãos de meu avô!
Vou ficar por aqui na escrita, sem saber se fui ao encontro do que me pediram os Mordomos.
Mas então - deixei vós - um padre, e não falou da festa religiosa
nem da santidade? Não, porque não era esse o assunto para agora.
Todavia, deixo aqui as palavras daquele frade franciscano que, passeando no belo claustro
do convento do Varatojo por ocasião das Festas de Santo António, e ouvindo
os acordes da Banda de Música que tocava lá fora, e os foguetes e morteiros
que subiam ao ar, o bom frade, de olhos baixos, e as mãos metidas nas mangas
do seu hábito de franciscano, repetia estas palavras saídas do coração
de um contemplativo: "Ó meu Jesus! E tudo isto, por causa da Santidade!" |
* Cónego Abranches
22. IV. 84 |
http://nsdaguialoriga.com.sapo.pt/n_s_guia.htm |
|
Quadras
dedicadas à Nossa Senhora da Guia |
Viva
a festa, viva a festa
De Nossa Senhora da Guia
Para a gente de Loriga
Não há melhor romaria |
Todo
o mundo vem para a rua
Há foguetes a estoirar
A Banda já está no adro
Os sinos estão a tocar
|
Na praça
está tudo cheio
Nem sequer há um lugar
São muitos os emigrantes
A procissão vai passar
|
Das
janelas enfeitadas
Com colchas multicolor
Lançam pétalas douradas
Que vão cair no andor
|
A Banda
sempre a tocar
Sua música de eleição
Dá mais encanto à festa
E brilho à procissão
|
Vós
sois a bonança
Que o mundo conduz
A nossa esperança
A mãe de Jesus
|
Senhora da Guia
Encanto e luz
A vossa magia
Só amor traduz |
O povo cheio de fé
Ao ver passar o andor
Acompanham a procissão
Cantando com mais fervor |
Vós
que sois a guia
E a padroeira
Abençoai Loriga
Pela vida inteira
|
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Estas quadras
foram elaboradas para o Primeiro Centenário da Festa de Nossa Senhora da Guia
(1984) |
|
As Doações
À Nossa Senhora da Guia
O amor, a adoração,
a fé e devoção para com a Nossa Senhora da Guia, ao longo dos
anos, é sem dúvida o mais eloquente dos sentimentos que move os loriguenses
para com a Padroeira dos seus emigrantes, que leva uma enorme vontade de contribuir
com as mais diversas dádivas, que possa configurar como mais-valia em prol dum
todo envolvimento em redor da Virgem Nossa Senhora da Guia, e que tem sido de importância
vital para grandiosidade desta referência religiosa em Loriga. |
*** |
Emigrantes no Brasil
Grandes Beneméritos de N.S. da Guia |
São vários os Beneméritos
em prol da Nossa Senhora da Guia, que vamos encontrar na história desta Virgem
na Vila de Loriga, considerada a Padroeira dos Emigrantes. |
A Comunidade
Loriguense em Pará do Brasil,
que se foi formando ainda antes de meados do século XIX foi, desde sempre, de
um grande bairrismo, sendo bem visíveis os vários contributos para com
a sua terra e que ficarão, para sempre registados na história de Loriga.
Esses contributos traduzem-se em obras edificadas um pouco por toda a Vila, nomeadamente
os fontanários, sendo ainda impulsionadores de muitas iniciativas bastantes
significativas. A benemerência desta comunidade Loriguense no Pará, Brasil,
que apesar da distância, não esqueceu a sua Vila e a sua Padroeira, é
sobretudo dirigida a favor de Nossa Senhora da Guia, onde vamos encontrar muitas dessas
obras e contributos, das quais me apraz aqui registar algumas. |
*** |
Terreno do Recinto da Nossa Semhora
da Guia |
O terreno onde se encontra situado
o Recinto de nossa Senhor da Guia, outrora chamado monte "Gemuro", em 1880 pertencia a uma família loriguenses chamada
Marques Guimarães. Nessa
altura o povo resolveu apoderar-se daquele local para ali construir uma capela em honra
de Nossa Senhora da Guia, que originou um certo conflito entre esta família
e o povo.
Após ultrapassado todo esse conflito verificado, finalmente a família
Marques Guimarães, deu a sua anuência à ideia, considerando-se
assim os primeiros Benemérito de Nossa Senhora da Guia. |
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Coreto do Recinto da Nossa Senhora
da Guia |
Foi mandado edificar em 1905, por
um grupo de emigrantes Loriguenses no norte do Brasil, para a Filarmónica ali
tocar em dias de Festa. Os nomes dessas pessoas constam na placa ali fixada. |
De acordo com a placa colocada no mesmo
e com data de 1905, foram beneméritos para a sua construção:
- Joaquim Fernandes Gomes
- António Duarte Pina,
- Augusto da Costa Madeira
- José Lopes de Brito,
- João de Brito,
- José Alves Nunes Pina
- Manuel dos Santos Silva,
- José de Moura Galvão
- José dos Santos Portela |
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Coreto no Recinto
da Nossa Senhora da Guia |
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Guião Vermelho
Oferecido em 1888, por Loriguenses
da Comunidade no Pará, tendo
um pau muito alto que seria depois cortado quando da inauguração da electricidade
em Loriga.
(É desconhecida a Lista dos nomes
que contribuíram nesta iniciativa) |
*** |
Cruz de Prata e Caldeirinha |
Sempre com um verdadeiro sentimento
religioso, era grande a devoção dos emigrantes Loriguenses no norte do
Brasil pela sua igreja em Loriga e pela Nossa Senhora da Guia que era Padroeira dos
navegantes e que passaram a chamar também a sua Padroeira por quem tinha verdadeira
fé e sempre presente nas suas orações.
Esta oferta foi uma ideia surgida em 1905, de imediato levada em prática, que
consistia na aquisição da Cruz e uma Caldeirinha, para o Santíssimo
Sacramento, não só para ser usada na procissão da Nossa Senhora
da Guia, como também em todas as outras procissões a realizar em Loriga.
Assim no ano seguinte (1906) foi possível tornar-se em realidade essa ideia,
que passou depois a ser muito admirada nas procissões,
Como registo aqui se mencionam os nomes de todos aqueles que contribuíram para
a respectiva aquisição e que constam de um mapa, impresso na cidade do
Pará orlado de vinheta e encimado com a Coroa (Escudo) nacional e que diz: "Relação dos Benfeitores que concorreram
para o beneficio de uma Cruz de Prata, oferecida ao S. Sacramento pela Colónia
Loriguense residente no Pará em 1905":
Oferecida em 1906 pelos loriguenses sediados em Manaus, sendo benzida oito dias antes
da festa da N.S. da Guia.
"Francisco Aparício Pereira;
Manuel Ferreira da Silva; José Jorge de Abreu; Manuel Gomes Aparício;
António Gouveia; Manuel Nunes Ferreira; José Martins; António
Gonçalves de Pina; Joaquim de Brito Prata; António Alves Ano Bom; José
dos Santos Moura; Albano Mendes Ribeiro; António Pinto de Moura; Augusto de
Moura Galvão; José Macedo Junior; José Gomes Aleixo; João
dos Santos Manulito; José Nunes Amaro; José de Brito Antunes; José
Mendes Cardoso; Manuela Lopes; José Aparício de Brito; António
de Brito Macedo; Joaquim Fernandes Conde; José Elias Correia Júnior;
António Cardoso de Moura; José Paixão; José Mateus-Fontão;
José Gomes de Abreu; Fernando Lucas; António Pinto Luiz; José
Pinto Luiz; António Oliveira; Emidio dos Santos Manulito; José Luiz Amaro;
Emidio Gomes Lages; António Lopes Vide; José Lopes de Pina; António
de Moura Pina; José dos Santos Ferrito; José de Brito Lourenço;
António Gomes de Melo; João Aparício Carvalho; António
Luiz dos Santos; Sebastião Fernandes; José Fernandes Prata; António
Gomes Lages; António Pinto Caçapo Junior; João Gomes Francisco;
Augusto Ribeiro; Francisco Gonçalves Pina; Plácido da Cruz Arrifana;
António Duarte Gouveia; Manuel Fernandes Caçamelho; Pedro António
Calado; Augusto Cardoso de Pina; José Cardoso de Pina; António João
Luiz; Joaquim João; António de Brito Crisóstomo; Augusto Fernandes
Conde; António Aparício de Brito; António Ramalho da Costa Brito;
José Duarte Pina; Plácido Gomes Aparício; António Luiz
do Banco; Plácido dos Santos Ferrito; António de Brito Braga; José
Lemos de Moura; Augusto Duarte dos Santos; António Duarte dos Santos; Emidio
Gomes Cazalho; António da Silva Sampaio; João Diogo Gouveia; José
da Costa Serralheiro; Manuel dos Santos; António Alves Ferreira; António
Nunes de Pina; Luciano dos Santos Aparício; José Lopes de Brito Antunes;
Augusto Pinto e Francisco Martins da Mota" |
*** |
Guião Azul
da Nossa Senhora da Guia
Oferecido em 1908, por Loriguenses
da Comunidade no Pará, bastante
interessante e belo.
(É desconhecida a Lista dos nomes
que contribuíram nesta iniciativa) |
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Altar da Capela |
Mandado edificar em 1953 este belo
altar a retábulo de mármore com motivos alegóricos à Ladainha
da Virgem.
É digno de realce e digno de admirar este belo
altar em honra de Nossa Senhora da Guia, obra valiosa e artística. Toda uma
fachada de parede da capela feita em mármore com oito painéis onde destaca
aquele belíssimo altar.
Iniciativa a cargo do Centro
Loriguense em Belém do Pará. Sendo extensa a Lista de oferta desta briosa e bairrista Colónia de Loriguenses
residentes no norte do Brasil, onde todos quiseram contribuir com o seu donativo para
a colocação de um altar na capela da sua padroeira. |
*** |
Bandeira Processional |
Foi de verdadeira devoção,
a oferta desta rica e artística Bandeira Processional para a N. S. da Guia,
cuja imagem foi pintada com grande fidelidade no estandarte. Esta doação
foi feita em 1960 quando de uma das suas visitas à sua terra, por Sr. Joaquim
Dias da Silva e sua esposa D. Carolina Mendes da Silva,
emigrantes Loriguenses em Belém-Pará.
Tinham sido também estes Loriguenses que numa das suas anteriores visitas a
Loriga, tinham oferecido uma linda toalha pintada, para o altar da N. S. de Fátima
na igreja matriz. |
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Ouro da Nossa Senhora da Guia
Através dos tempos, tem sido
de realce as acções beneméritas, doações e as mais
variadas ofertas, que são endereçadas para a Nossa Senhora da Guia, que
têm sido de importância vital para grandiosidade desta referência
religiosa em Loriga. Significativo também tem sido desde sempre as ofertas de
artigos de ouro, nomeadamente, fios, correntes, anéis, brincos etc., que os
fiéis e devotos da Nossa Senhora da Guia em Loriga doam à sua Virgem,
de certa forma no cumprimento de promessas que hoje em dia se traduz num valioso espólio,
de verdadeira magnificência.
Sabe-se também que estes géneros de ofertas
continuam ainda bem presentes no nosso povo, no entanto, parece não restar dúvidas
que já não tem amplitude como aconteceu nas décadas de 1950/60/70
e 1980, que como se sabe teve uma maior relevância, sendo também do conhecimento
geral que todo esse espólio, como natural, estar sempre na posse do Pároco
de Loriga.
Recorde-se que todo este espólio do ouro da
Nossa Senhora da Guia, que durante anos esteve sempre à guarda do Pároco
de Loriga, alguns anos a esta parte passou a ser guardado na caixa forte do Banco Santander
Totta, onde ali permanece. |
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Aqui se documenta as Listas existentes
de todo o ouro contabilizado até aos Anos de 1986 |
* |
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Aqui se documenta as Fotos existentes
do inventário do ouro que reporta até aos anos de 1986 |
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Novo Lustre
Da Capela da Nossa Senhora da Guia |
Foi uma oferta do loriguense,
Mário Pinto Lucas,
radicado em Belém - Pará - Brasil, que no ano de 1983, duou para
a Capela de Nossa Senhora da Guia, este grandioso e brilhante lustre de cristal.
O Lustre foi escolhido e adquirido numa casa de especialidade na Baixa Lisboeta,
pelo saudoso Reverendo Padre António Abrantes Roque Prata, antigo pároco
de Loriga.
O antigo Lustre que foi retirado da Capela de Nossa Senhora da Guia, foi oferecido
pela Comissão para a Capela de Nossa Senhora do Carmo. Era Pároco
de Loriga o Reverendo Padre Francisco Borges de Assunção. |
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O altar no alpendre
Da capela da Nossa Senhora da Guia
O altar em granito edificado no alpendre
da capela da Nossa Senhora da Guia, foi oferecido pela Câmara
Municipal de Seia, no ano de 1984,
quando era festejado o 1º. Centenário das Festas, sendo atendido o pedido
idealizado pela Mordomia na altura. |
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Oferta de um terreno adjacente ao
Recinto |
Maria de Lurdes Duarte Gouveia, proprietária de um terreno com uma área de
1.250 (m2) adjacente ao Recinto de Nossa Senhora da Guia, cedeu gratuitamente esse
terreno à Mordomia, conforme consta da Declaração que foi inserida
no Jornal "A Neve" Nr. 463 de Outubro de 1997, que aqui se transcreve.
Declaração
"...Mais declaro que nesta data, dia dois
de Julho de 1997, cedo gratuitamente o referido terreno à Mordomia de Nossa
Senhora da Guia, destinado ao seu uso e alargamento do Recinto do Santuário
e outras finalidades que a Mordomia quiser dar-lhe, nomeadamente para o desvio da canada
pública existente no recinto do Santuário.
Logo que oportuno e em colaboração com a Junta de Freguesia de Loriga
e a Mordomia de Nossa Senhora da Guia, proceder-se-á à legalização
do referido prédio".
Loriga, 02 de Julho de 1997
A Declarante
Lurdes Duarte Gouveia |
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Nossa
Senhora da Guia Padroeira dos Emigrantes |
A
devoção a Nossa Senhora da Guia em Loriga, remota ao século XIX.
Na altura verificava-se já com alguma regularidade, a saída de loriguense
para o Brasil, passando a emigração de Loriga a ser uma realidade.
Os emigrantes loriguenses para o Brasil, começaram a ver na Virgem Nossa Senhora
da Guia a sua Padroeira. Através dos tempos foi-se reforçando essa devoção
passando mesmo a ser a Padroeira de todos os emigrantes loriguenses. |
Carta de um Emigrante a Nossa Senhora
da Guia: |
"Desculpa, Virgem-Mãe
, Nossa Senhora, que te escreva, esta carta, em que te diga o que mais quer
dizer-te, nesta hora, o filho mais humilde de Loriga.
Da minha terra vim para o deserto, porque é sempre deserto a terra alheia.
Mas, se te lembro, sinto-me tão perto, como se fosse ver-te à
minha aldeia.
Sei que, ao longo da vida, não me esqueces. Sei que não me abandonas
um só dia. Ouves, no céu, a voz das minhas preces. Mesmo a distância,
O teu olhar me Guia.
Não me larga a saudade. Quando penso no velho lar beirão em que
nasci, Logo molho de lágrimas o lenço, como posto a chorar ao
pé de ti.
Porque faz bem chorar na dor sofrida. Porque faz bem chorar na solidão,
recordando o altar da tua ermida a que nos anda preso no coração.
Daqui te evoco à sombra do pinhal, saindo à rua sobre o teu andor,
ou eu já não trouxesse Portugal a cantar-me no sangue, em teu
Louvor.
Mas o que o berço deu, jamais se apaga. O que aprendemos a rezar outrora
é que nos cura o mal de cada chaga que se nos rasga pelo mundo fora.
O trabalho não custa. O que nos pesa, o que mais cá por dentro
nos arrasa é comermos o pão da nossa mesa, sem que seja ao calor
da nossa casa
Mas tu não faltas. É contigo apenas que nos juntamos em família
amiga, como nas claras tarde das novenas, ao replicar dos sinos de Loriga.
Faz, Senhora, que um dia volte a ver-te, como nos tempos em que minha mãe
me levava a teus pés, para dizer-te o que não te diria mais ninguém.
Se longe estou, que seja passagem e depressa regresse ao teu pinhal, para florir
de novo a tua imagem, e nunca mais sair de Portugal".
11.VII.82
P. Moreira das Neves |
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Recortes de história
da Festa da Nossa Senhora da Guia |
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- Ano de 1935 - Uma controvérsia
comissão |
Neste ano e pela primeira vez, surge
um grupo de pessoas intitulando-se como comissão para organizar a Festa de N.
S. da Guia, contrariando como até então se procedia, em que as festas
religiosas estavam a cargo do Pároco local
Foram mesmo espalhadas em Loriga e freguesias vizinhas uma publicação
com a programação seguinte:
"Tradicionais e grandiosos festejos
em honra da Virgem N.S. da Guia pela comissão das festas da Vila de Loriga.
Realisam-se nos dias 3 e 4 de Agosto as importantes Festas da Vila à Virgem
N. S. da Guia, padroeira dos Loriguenses ausentes, indubitavelmente uma das mais concorridas
deste distrito, constando o seguinte programa:
Dia 3 - às 12 horas - Serão queimados foguetes e morteiros anunciando
as festas. Às 16 e ½ horas - Seguirá para a Avenida Augusto Luiz
Mendes a Filarmónica loriguense onde deverá fazer-se uma recepção
à Banda humanitária de Bombeiros Voluntários de Cascaes pelas
17 horas, queimando-se uma salva de morteiros. Às 17 horas - Haverá venda
da flôr. Às 21 horas -Entrada das duas filarmónicas no recinto
das festas, sendo queimada uma salva de 21 tiros. Às 22 horas - Será
queimado um vistoso fogo de artificio, fornecido por um dos melhores pirotecnicos da
Barquinha. O arraial estará lindamente ornamentado e iluminado a luz elétrica.
As bandas executarão as melhores peças dos seus vastos reportórios.
Dia 4 - Diversos divertimentos mundanos, bem como várias surpresas que acabam
de movimentar a festa." *
(curiosamente não era feita nenhuma referência a culto religioso)
Escusado será dizer que perante isto, surgiu um contencioso entre o Padre Lages,
na altura Pároco de Loriga e os membros dessa comissão e também
alguma população, sendo dado conhecimento e mesmo enviado o respectivo
programa ao Senhor Bispo da Guarda, que por sua vez enviou ao Pároco de Loriga
a seguinte Portaria:
"Tendo sido publicado um programa
com o titulo Tradicionais e grandiosas festas em honra da N.S. da Guia pela comissão
das festas da Vila de Loriga, realisam-se nos dias 3 e 4 de agosto; indicando-se nesse
programa o arraial e (diversos divertimentos mundanos, bem como varias surpresas),
com exclusão de qualquer acto culto; Havemos por bem prohibir a celebração
nesses dias de qualquer festividade religiosa naquela Vila, podendo essa festa ser
adiada para quando o Rev.do Paroco julgar conveniente, com a condição,
porém, de que limitará unica e exclusivamente a actos religiosos, com
exclusão de qualquer parte profana.
Seja esta Portaria remetida ao Rev.do Paroco de Loriga, para que lhe dê exacto
cumprimento, sob pena de suspensão ipso facto, devendo acusar-nos a sua recepção
dentro de cinco dias.
Caldas da Felgueira, 24 de Julho de 1935
JOSÉ, Bispo da Guarda" * |
* Documentos transcritos na integra, |
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- Ano 1939 - O Ano em que não
houve Festa |
Desde à quatro anos atrás
que continuava a existir um certo contencioso, entre o Padre Lages e alguma população,
com esta a não conformar-se pela proibição existente de não
ser permitido arraiais populares nas festas de cariz religioso.
Este contencioso teve maior proporção, neste ano de 1939, que levou a
não ser realizada a Festa em honra de Nossa Senhora da Guia.
Consta que na noite anterior à Festa da N.S. da Guia, por volta da meia-noite,
alguns populares dirigiram-se para o recinto da festa deitando alguns foguetes, chamando
a atenção da população, para que ouvissem os seus protestos.
Foi dado disso conhecimento ao Senhor Bispo da Guarda, que por sua vez fez chegar ao
Senhor padre Lages o seguinte comunicado:
"Revm. Sr.
Queira dizer-nos:
1º. O que se passou na noite de Sábado último?
2º. O que resolveram fazer: fizeram ou não a festa religiosa?
3º. Justifiquem o que tiverem feito.
4º. Será preciso interditar os promotores do que se fez? Houve realmente
promotores? E quantos?
Deus guarde Va. Reva.
Guarda, 7 de Agosto de 1939
Assinado) José Bispo da Guarda" * |
* Documento transcrito na integra, |
Nota:- Consta no entanto que 15 dias depois houve
uma celebração na capela, ao que parece, em substituição
da festa. |
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O asfalte da ladeira
Da Nossa Senhora da Guia
Foi na década de 1980 que a
Câmara Municipal de Seia, finalmente resolveu proceder ao asfalte da ladeira,
ramal do cemitério até ao recinto, que de certa forma era uma das maiores
carências que existia naquele local e que há muito os loriguenses reivindicavam.
Foi a Mordomia de 1983/84/85/86, na altura do centenário das festas, aquela
que mais se empenhou para que fosse asfaltado a ladeira que vai do cemitério
ao recinto da Nossa Senhora da Guia, que veio a ser recompensada com a realização
desse trabalho, que passou então a ser um bem vital para o acesso ao belo recinto
da Nossa Senhora da Guia de Loriga. |
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Antes do asfalte |
Depois de colocado o sfalte |
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Painel na Catraia da Nossa Senhora da Guia
Painel em honra da Nossa Senhora da Guia, construído no principio da descida
da catraia que leva ao Recinto da Nossa Senhora da Guia, inaugurado em Agosto de 2008,
idealizado pela comissão da mordomia da Festa da N. S. da Guia (2007-2008). |
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Trovas à Nossa Senhora da Guia * |
Nossa Senhora da Guia
Tem um Menino na mão
Tem um Menino a que, um dia
Deu todo o seu coração.
Nossa Senhora da Guia
Mostra ao seu povo uma estrela.
Causa da nossa alegria
Não há Senhora mais bela.
Nossa Senhora da Guia
Foi num pinhal que se ergueu.
E no pinhal, à porfia
Cantam as aves no Céu.
Nossa Senhora da Guia
Jamais esquece ninguém.
Trás sempre o olhar de vigia
A quem lhe reza do Além...
Reza-lhe tu, emigrante
Reza-lhe tu e confia.
Nunca te larga um instante
Nossa Senhora da Guia
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* Padre Moreira Neves |
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Capela da
Nossa Senhora da Guia |
A veneração à
Nossa Senhora da Guia nesta localidade de Loriga, surgiu nos meados do século
XIX, ideia trazida pelos "Cartagenos", nome dado aos negociantes de lã
que iam por outras terras do país; nomeadamente pelo norte, vender as peças
tecidas manualmente.
Esses "Cartagenos", nas suas andanças comerciais viram no Minho, mais
precisamente em Vila do Conde junto à foz do Rio Ave, uma ermida em honra de
Nossa Senhora da Guia, padroeira dos pescadores. Quando em Loriga se pensou construir
uma capela em louvor da Virgem, como nessa altura os Loriguenses começavam a
sair, emigrando para o Brasil, o nome escolhido foi o de N.S.da Guia, que passou a
ser, nesta vila, a padroeira dos emigrantes.
Nos primeiros anos da década de 1880, sendo o povo de Loriga muito devoto, de
muita fé e de muita coragem, quando se procedia às obras da reconstrução
da Igreja matriz destruída em consequência de um abalo de terra verificado
nesta região da Beira, de imediato o pensamento da construção
da capela tomou ainda maior forma. O monte "Gemuro", que emerge da ribeira
de São Bento foi o escolhido. Situado a nordeste da povoação,
a pouco mais de um quilómetro do centro da Vila, era porventura o local mais
indicado. No entanto, não foi uma escolha pacifica, originando muitos conflitos
e confusões, que só o tempo viria a saldar.
Aquele lugar conhecido por "Gemuro", era uma passagem dos proprietários
dos pinhais e que servia também de caminho de acesso à freguesia da Cabeça,
sendo terreno plano, soalheiro e de boas vistas. Ali se juntava o povo aos domingos,
nas tardes de verão, para descansar dos rudes trabalhos da semana sendo, ainda,
um verdadeiro miradouro para o monte do Colcorinho, sobretudo no domingo do Espírito
Santo e quando da celebração da festa de N.S. das Preces em Vale Maceira.
A família Marques Guimarães, proprietários daquela terra e pinhais,
não via com bons olhos o ajuntamento de estranhos nas sua terras. Mas o povo,
cada vez mais sentia-se atraído por aquele local, para os seus convívios
familiares, de lazer e descanso. Quanto mais os donos procuravam defender os seus direitos,
mais o povo parecia tomar conta daquele lugar e, movidos pela ideia da construção
da capela, começaram mesmo a derrubar os pinheiros e a terraplenar o terreno.
Nem mesmo as autoridades administrativas locais conseguiram demover o povo a desistir
do fim que tinha em vista, passando desde logo esse lugar a chamar-se por Senhora da
Guia. Nessa época, era paroco de Loriga o Sr.Padre Matias.
Em 1884, foi concluída a construção da capela, feita de pedra
de xisto. Esta capela durou cerca de 40 anos e tinha a entrada principal virada para
a povoação. A primeira festa em honra de N.S. da Guia realizou-se nesse
mesmo ano, em 06 de Outubro, para depois passar-se a realizar sempre no primeiro domingo
de Agosto.
No inverno, aquele local era frequentemente assolado por ventos fortes e enxurradas
de águas, o que fez com que a capela primitiva fosse ficando muito degradada.
Em 1917-18, como não parecia oferecer segurança, após mais de
três décadas de existência, pensou-se na sua demolição
tendo, para o efeito, sido constituída uma comissão, com a finalidade
de dar início à construção de uma nova capela. Foi então
demolida a primitiva capela e edificado uma outra que ficaria concluida por volta do
ano de 1921.
É esta a capela que chegou até aos nossos dias, com as medidas de 9,30
X 6,90 metros, tem ao longo de todos estes anos de existência, conhecido várias
transformações tendo já pouco a ver com a inicialmente edificada.
Os relatos da época dizem, que a festa realizada após a construção
da nova capela, foi de verdadeira emoção e alegria. Era então
pároco de Loriga, o Monsenhor António Gouveia Cabral e, no rosto de todos
os presentes, era bem visível esse contentamento por terem proporcionado uma
digna capela à Virgem que, do seu andor, parecia dizer ao menino que olhava
sua Mãe:- "Vê como meus filhos me amam"
O recinto da N.S.da Guia é, na verdade, hoje em dia, a "coroa" da
Vila de Loriga e digna de ser vista por todos os visitantes. A capela de N.S. da Guia
e a Virgem tem, sem dúvida, o grande afecto dos emigrantes Loriguenses espalhados
pelo mundo. |
*** |
A imagem da Virgem, tão bela
e expressiva foi feita para os lados de Braga e data da construção da
primitiva capela. Chegou até bastante antes da capela estar concluída.
Existe uma outra imagem - Nossa Senhora da Guia pequenina - que devia vir para Loriga
por volta de 1901-1902. A razão desta segunda imagem é a seguinte:
O dia da festa, excepto o primeiro ano (1884), sempre se realizou no primeiro domingo
de Agosto. De manhã, muito cedo, a imagem vinha em procissão da Capela
para a Igreja, regressando para a sua capela cerca do meio dia. Acontecia que muitos
romeiros, alguns de longes terras, vinham até à capela cumprir as suas
promessas e dar as suas esmolas e não encontravam a Imagem da Virgem o que bastante
os desconsolava. Foi por isso que se mandou fazer outra imagem que substituísse,
na ausência, a primitiva imagem de Nossa Senhora da Guia, como hoje ainda isso
acontece. |
Festa em honra de Nossa Senhora
da Guia |
A Festa em honra de Nossa Senhora
da Guia, realiza-se anualmente no primeiro Domingo de Agosto.
Para além do acto religioso em que é relevante a magestosa procissão
e missa campal, tem como complemento também a parte musical, que decorre normalmente
no recinto e também na vila.
É a maior Festa que se realiza em Loriga e a que mais visitantes atraia a Loriga,
nomeadamente os Loriguenses espalhados pelo país e pelo mundo.
As mordomias nomeadas, levam a efeito vários eventos, tendo ao longo do ano
a preocupação de angariar receitas, não só para a realização
da Festa anual, mas também ter sempre presente fundos para despesas pontuais,
obras e restauro da Capela, Coreto, Casa do Fogueteiro e ainda a conservação
de toda a área envolvente do recinto e rampa de acesso. |
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