Dados & Recortes da História de Loriga

Glaciação da Serra da Estrela e Formação Geológica de Loriga


A Serra da Estrela sendo a mais elevada de Portugal Continental com 1991 metros de altitude, impõe-se por ser erguer bruscamente entre áreas aplanadas e pouco elevadas, a superfície da Beira Baixa a SE e o planalto da Beira Alta a NW.
Do ponto de vista geológico é um afloramento granítico com cerca de 280 milhões de anos (Paleozóico) entrecortado aqui e além por filões de quartezíticos, por depósitos glaciários e fluvioglaciários e interrompido a NE por complexos xistograuvaquicos e anteordovícicos que também o rodeia a Sul e a SW.
Presume-se datarem de cerca de 65 milhões de anos (Paleozóico) as principais linhas de fractura que condicionaram grandemente o relevo e a estrutura actual da Serra da Estrela, bem como o encaixe da rede hidrográfica da região, tendo-se verificado o levantamento tectónico somente no final do Terciário (finais do Miocénico início do Pliocénico) por efeitos da orogenía Alpina que submeteu o maciço a movimentos epirogénicos.
No tempo geológico, a Era Quaternária tem particular interesse, porquanto é nesse período que decorre a evolução rápida do homem, se estabilizam os climas regionais, se define a forma exterior da crosta terrestre nas zonas com cobertura glaciária.
Durante a última glaciação, uma acentuada baixa de temperatura invade a Europa e à acumulação de sucessivas camadas de neve e de gelo nas elevações, seguiu-se o desprender e deslizar vagaroso, para mais baixos níveis das enormes massas de gelo. As línguas de gelo migrantes, com maior velocidade na parte central e arrastar vagaroso nas margens, fragmentam-se e desenvolvem poderosas forças que arrancam, estriam, gastam e dão polimento às superfícies em que deslizam.
Na Serra da Estrela a diversidade de línguas glaciárias existentes deveu-se sobretudo à topografia pré-glaciárica e às condições climatéricas durante a glaciação. A posição do Sol no verão relativamente à orientação dos vales bem como os ventos dominantes no inverno teriam sido dois factores importantes dessa glaciação.
Nesta superfície onde houve gelos móveis, as rochas brilham ao sol devido ao seu polimento provocado pela abrasão dos materiais por eles transportados. Este trabalho erosivo gerou no terreno enormes degraus denominados escadarias de gigante, e rochas arredondadas lembrando o dorso de ovelhas e por isso designadas de aborregadas. Um dos principais factores que contribuíram para estas formas foi a direcção do movimento do gelo que no primeiro caso seria perpendicular às fendas do granito e no segundo teria a mesma direcção.
Os glaciares que mais se afastaram atingiram o seu fim, ao encontrar menores declives e temperaturas que os fundem. Morreram, deixando amontoados de calhaus mal rolados e detritos que transportaram, que salpicaram a paisagem com o aparecimento de alongados e amontoados blocos com tamanhos diversos, as moreiras, que constituíram a carga transportada pelos glaciares, posteriormente depositada por perda de capacidade de transporte, assim como, alguns blocos de grande dimensão designados por blocos erráticos, que foram deixados em locais distantes da sua origem.
Como resultado de tais movimentos foi adquirida uma estrutura em degraus orientados, evidenciando nos patamares os restos da aplanação primitiva, que foi modelada por diferentes tipos de erosão, destacando-se na designada "Serra do Cântaros" a acção dos glaciares Wurmianos (cerca de 27 mil anos).
O planalto do cimo da Estrela teria sido coberto por uma calote de gelo (cerca de 80 metros de espessura, para alguns investigadores) da qual divergiram os antigos glaciares em número de sete, muitos dos traços desses antigos glaciares encontram-se por toda a área da Serra e vão desde circos gigantescos glaciares a vales com perfis em U.
O valor paisagístico da Serra da Estrela impõe-se pela variedade do mosaico que a constitui, os seus vales profundos divergindo dos cimos, dão à paisagem, pelo vigor do encaixe, uma grandeza de montanha pincelada pela diversidade vegetal, ribeiras, lagoas, e no sopé, as povoações em xisto ou em granito. Contudo, ganha especial importância numa área restrita, por nela existir uma morfologia única no nosso país, devido à glaciação, a par de uma vegetação de zimbro anão e cervum inigualável em qualquer outra paisagem portuguesa. É de salientar ainda a quantidade de caos de blocos nas zonas periglaciares, comuns a todas as montanhas graníticas, que contrasta com a sua inexistência nas zonas outrora cobertas de gelo.
Como se disse, vários são os vales de perfil transversal em U, modelados pelas massas de gelo em movimento, cujos perfis longitudinais podem possuir socalcos deprimidos por vezes com lagos correspondendo a troços de menor resistência à acção abrasiva do glaciar.
Um desses vales imponentes é o de Loriga, que começando na mais elevada altitude da Estrela 1991 metros, desce abruptamente até à Vide a 290 metros, acolhendo no seu percurso pequenas povoações como Cabeça, Casal do Rei, Muro.
Tendo como povoação central a Vila de Loriga a 7 Km da origem junto ao planalto da Torre, este vale está cavado em nítidos e numerosos degraus bem acentuados que constituem planos de aluvião arrelvados, e representam antigas lagoas assoreadas dispostas em série como pérolas de colar, e ainda também todo um vale repleto de história, onde é bem visível os vestígios glaciares, espécies vegetais raras duma floresta que cobria as encostas antes e após a glaciação.
A permanência de muito desses vestígios glaciares, as marcas de pastores transumantes, um mundo belo de socalcos construídos para a cultura do milho e também o passado e o presente da industria têxtil, presume-se mesmo que a Vila de Loriga é das povoações mais antigas da Serra da Estrela.

(Registado aqui - Ano de 2001)


Vila Loriga

Registos Antigos da História de Loriga

Uma localidade antiquíssima

Os Montes Hermínios, hoje Serra da Estrela, era uma região propicia para os grandes rebanhos de gado e ao mesmo tempo uma fortaleza e trincheira bem conhecida dos pastores que se fortaleciam na defesa destes seus territórios nas lutas contra os conquistadores, principalmente contra o império Romano.
Não foi por acaso que os pastores chegaram a esta região, atraiu-os decerto os terrenos, a muita quantidade de água existente e a luxuriante vegetação própria para pastorear os gados. Por isso não será difícil de compreender que este vale nesses longínquos tempos, quando a arborização das encostas sustinham as terras imobilizadas, as águas pluviais não tinham ainda levado para os campos de Coimbra e dali para o oceano, as milhares toneladas de areias em conjunto com o calcário que anualmente para ali se deslocavam.
Parece não restar dúvidas de que Loriga é de facto uma localidade muito antiga. Sabe-se até, segundo os historiadores ter sido mesmo o berço de Viriato, um desses pastores que se viria a tornar um herói do povo Lusitano nos anos de 140.
É também, nos relatos dos muitos historiadores de que vamos tendo conhecimento, de quanto custou aos romanos a incorporação lusitana no seu império, sendo visíveis em Loriga vestígios dessa passagem que para eles era a "Locobriga" ou "Lorica" ou "Lobriga" de que tanto falavam. Por esse motivo é fácil, pois, de compreender ser esta localidade muito antiga, mesmo parecendo até já existir muito antes da chegada dessa civilização romana à Península Ibérica.
Os penhascos de forma arredondada, que os geólogos designam com o nome técnico de glaciais e que vemos em tão grande quantidade, nos lugares conhecidos por Bouqueira, S.Bartolomeu e Fonte Sagrada, parecem indicar-nos um dos primeiros leitos da ribeira, que fica a nascente da freguesia.
Há também indícios, que nos dão conta de que o inicio de Loriga teria acontecido num local conhecido por "Chão do Soito" a cerca de 1000 metros do centro desta localidade, porque sendo ali encontrado alguns vestígios parece ter existido ali um primitivo povoado.
Mas de tudo o que se vai sabendo da história antiga de Loriga, não restam dúvidas, de que os primeiros habitantes desta região de Loriga foram pastores e que rapidamente cresceu em comunidade. Os próprios rebanhos aumentaram prodigiosamente em pouco tempo, os homens foram ampliando as suas rudimentares habitações segundo as suas necessidades, os cercados e cortes para abrigo dos animais foram igualmente surgindo, o gado e o leite constituía o principal alimento da população e a lã era o elemento indispensável para a indumentaria.

Loriga, foi também uma importante povoação visigótica. Foram mesmo os Visigodos que começaram a usar o actual nome da localidade, ou seja, Loriga.

Lugar do Chão do Soito (Actual)

Lugar do "Chão do Soito" (Actual)

(Registado aqui - Ano de 2004)


Loriga e a sua Origem

Sendo esta localidade muito antiga não foi ainda possível ver narrado com precisão, através de uma monografia concreta, por um historiador ou investigador, o principio desta povoação.
Nos anos 753 a.c. - 476 d.c. o Império Romano durante cerca de 500 anos, conquistou e dominou grande parte do mundo ocidental, desde Roma ao Médio Oriente, Europa, norte de África, parte de Ásia, e total dominador do litoral do Mar Mediterrâneo. A Península Ibérica foi também uma das conquistas, sendo dividida em três províncias, a mais ocidental, chamada Lusitânia, correspondia uma grande parte aos Montes Hermínios (actual Serra da Estrela) onde Loriga se encontra situada.
Quando o império Romano se desmoronou no século V, a Península Ibérica começou a ser ocupada com povos oriundos dos mais diversos lugares mesmo até de zonas longínquas da Europa central. A região de Loriga não fugiu à regra, por isso mesmo, existem vestígios e até lendas dessa passagem, mas aqueles que mais vestígios deixaram foram de facto os mouros e mais ainda os romanos.
O povo Lusitano, senhores desta região serrana dos Montes Hermínios, tinham como seu líder o grande chefe Viriato, filho de pastor e grande conhecedor destas terras o qual, se pensa ter nascido na povoação de Loriga.
Algum tempo a esta parte, e de acordo com alguns vestígios encontrados, pensam alguns historiadores que a primitiva Loriga poderia ter principiado num local chamado "Chão de Soito"
1), que fica a cerca de pouco mais de um quilómetro da localidade actual. A razão da mudança para o sítio onde hoje está situada, poderia estar relacionada com o facto de, aquele local, estar sob constante ameaça de ficar soterrado por causa das frequentes chuvadas ou, mesmo, devido ao crescimento das famílias e dos rebanhos e, os Loriguenses primitivos sentissem a necessidade de maior espaço, tendo visto na colina que emergia das duas ribeiras o local ideal.

1) Padre António Mendes Cabral Lages (Memórias) (Registado aqui - Ano de 2000)

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Nota do Autor:-Não sendo possível, actualmente, aprofundar historicamente o nascimento de Loriga, resta aos Loriguenses manter viva a esperança de, um dia, poder vir a conhecer a história primitiva das suas raizes e a origem do seu berço, através de alguém que se dedique em profundidade a esta investigação.

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Mais registos complementares da História de Loriga

A vila de Loriga fica situada na encosta sudoeste da Serra da Estrela a 770 metros de altitude. É a povoação central de um formoso vale de origem glaciar que começa nas mais elevadas alturas da Estrela, a 1993 metros e desce abruptamente até Vide, a 290 metros. É um vale repleto de história, onde permanecem vestígios glaciares, espécies vegetais raras duma floresta que cobria as encostas antes e após glaciação, construções rudimentares de pastores transumantes, uma espantosa infinidade de socalcos intensamente verdes, construídos para a cultura do milho, e também o passado e o presente da indústria têxtil, principal ocupação das gentes de Loriga.
"Loriga já não é uma verdadeira aldeia da serra, antes uma vila caiada e alegre, aninhada no fundo do vale e aconchegada à igreja paroquial, num abraço terno de religiosidade". Foi há já muitos anos que Quelhas Bigotte escreveu estas palavras, num tempo em que "a activa indústria de lanifícios e malhas, uma metalomecânica próspera e dinâmica, dá-nos a medida exacta do valor industrial duma terra que, apesar do absentismo dos seus filhos, não pretende morrer".
Com a crise dos anos setenta, muitas dessas fábricas fecharam; entretanto, outras abriram, sendo reposta a dinâmica. Mantendo-se inalterável, "a paisagem que envolve Loriga surpreende-nos e encanta-nos. Pelas vertentes da serra arborizada, as manchas verdes dos pinhais. Acima e abaixo da vila, uma infinidade de socalcos, cavados pelos homens, onde se criam e sustentam animais e as suas pastagens crescem. As águas abundantes descem pelas encostas, represadas aqui e além, repartidas em levadas que regam milhos e pastagens".
À cavaleiro da vila, à maneira de moldura imponente, erguem-se dois formidáveis baluartes da serra: a Penha dos Abutres (1819 metros) e a Penha dos Gatos (1768 metros), ficando entre as duas a chamada "Garganta de Loriga". Na sua "Memória Paroquial", o vigário João Roiz Ribeiro falava de sete cabeços que formaram a defesa natural de Loriga. Seriam obstáculos intransponíveis para qualquer invasor, locais ideais para a edificação de castros, o que parece ter acontecido, pois o padre viu "vestígios dos alicerces dos muros que ainda hoje se conservam na Cabeça do Castelo". E cremos que a chamada "pedra incavalada, por ter uma grande pedra atravessada no cimo", mais não seria que um monumento megalítico, a que o bom do prior não soube pôr o nome.
Parece não haver qualquer dúvida quanto há existência, em Loriga, de pelo menos um castro lusitano, havendo um local onde abundam montes de pedras, que foi desde sempre denominado de "O Castro". A tradição diz que os habitantes desse povoado castrejo, quando forçados pelos romanos a abandoná-lo, desceram ao vale, onde no "Chão do Soito" fundaram a primitiva Loriga, deslocando-se mais tarde para o actual assento da vila. Também algumas tradições dão Loriga como berço de Viriato, existindo ainda, bem conservados, restos do que dizem ter sido a sua habitação.
Os povos que se seguiram, romanos, suevos, visigodos e mouros, igualmente deixaram os seus vestígios. Dos primeiros conservam-se sepulturas antropomórficas, um troço de calçada e a ponte. A própria etimologia do topónimo da freguesia parece radicar no termo latino "Lorica", uma armadura ou couraça guerreira, frequentemente usada pelos romanos. Ao nível do eclesiástico, Loriga foi uma vigairaria do padroado real. Em 1706, tinha a igreja matriz e duas ermidas, S. Gens e Santo António. Em 1758, além das duas capelas referidas possuía mais três, uma de S. Sebastião, outra no Casal da Cabeça e a terceira, no Fontão. Quanto a irmandades e confrarias, segundo o Pe. João, não existia qualquer uma.
O terramoto de 1755 quase destruiu a igreja paroquial, e como não se fizeram obras a tempo, acabou mesmo por ruir. Era um templo românico com as características da Sé Velha de Coimbra. Possuía uma abóbada artesoada com riquíssimos quadros que alguns atribuem à escola de Grão Vasco. Tinha cinco altares e dela hoje apenas resta a traça duma das portas que tem uma inscrição visigótica dum salmo sobre o baptismo, e uma pedra, contendo inscrito o ano de 1233, numa das portas laterais da actual igreja paroquial.
A grande devoção das gentes de Loriga é a Nossa Senhora da Guia, venerada na sua capela, onde todos os anos na primeira semana de Agosto acorrem Loriguenses de diversas paragens assim como outros visitantes. Visitantes que ao longo do ano encontram nesta freguesia os mais variados atractivos: a diversão na neve, podendo-se esquiar nas magníficas pistas, o mergulho nas águas frescas da ribeira, e a descoberta da montanha, percorrendo inúmeros caminhos que, a cada momento, proporcionam cenários únicos e inolvidáveis.

(Registado aqui - Ano de 2003)


Os Romanos em Loriga *

Os romanos vieram para a Península Ibérica no século III (AC) mas segundo as crónicas, só no século II da nossa era (Ano de 193) eles chegaram aos Montes Hermínios.
Ao principio chegaram com intuitos puramente comerciais, para logo porém, voltarem em tom de guerra e de conquista, que se prolongou até ao tempo de Augusto, em que a dominação se consolidou.
A conquista e romanização da Lusitânia trouxe para esta, e para a quase totalidade da Península Ibérica, nova civilização material, novos hábitos de vida, nova religião, nova língua e de certo também alguma alteração na ética.
(1)
A necessidade de defesa dos povos nativos levou-os a construir fortificações nos pontos mais altos e assim surgiram os "castros" farde de castelos. Alguns destes "castros" foram destruídos na luta e outros transformados em aldeias.
Estabelecida a pacificação com o domínio absoluto dos romanos, os castrejos ou habitantes dos "castros" desceram dos montes para os vales e para terrenos produtivos e abrigados, onde os romanos começaram a ensinar-lhes a aproveitar melhor as suas terras, os diferentes modos de a adquirir, o direito da propriedade, a delimitação das glebas com marcos, etc., e deram-lhes a sua palavra de "villa" para designar uma propriedade rústica termo que sobreviveu todas as invasões e devastações posteriores, até chegar quase a fundação do Estado Português.
A vantagem e urgência de comunicação entre os diferentes "castros" e "villas" levou os romanos à construção de vias e pontes, cujas características são universalmente conhecidas - grandes lages e pedras estendidas no chão, arcos típicos, pedras colossais a servir de guardas, etc.
Se outras provas não houvessem da permanência dos romanos em Loriga, bastará conhecer grande parte do caminho romano a ponte sobre a ribeira das Naves ou "Courelas".
O Caminho romana ainda hoje visível, atravessa grande parte da zona circundante de Loriga que passava no "castro" primitivo já perto da Portela do Arão, cujas ruínas eram visíveis em 1759. Hoje apenas restam montes de pedras, mas o lugar foi sempre denominado de "O Castelo".

Via Romana no lugar chamado "Calçadas"

(1) Dr. Leite de Vasconcelos - Etnografia Portuguesa, II volume pág. 359 - * Publicação de Loriga de 1956
(Registado aqui - Ano de 2004)

Outros Apontamentos - Vestígios Romanos *

O nome Lorica aparece como sendo da época romana num documento medieval visigótico com referências à zona. Foi aliás na época visigótica que a "versão" Loriga começou a substituir o nome Lorica que vinha da época romana, mas o nome original dado pelos romanos só caiu totalmente em desuso durante a primeira metade do século XIII.
Depois, aparece novamente em documentos dos séculos X, XI, XII e XIII, principalmente em documentos do século XII, inclusive quando se fala de limites territoriais, onde até a actual Portela do Arão é referida como Portela de Lorica, começando mais tarde a ser referida como Portela de Aran, depois de Aarão, e finalmente do Arão. A estrada romana de Lorica era uma espécie de estrada estratégica, destinada a ajudar a controlar os Montes Herminius onde, como se sabe, viviam tribos lusitanas muito aguerridas. Esta estrada ligava entre si duas grandes vias transversais, a que ligava Conimbriga, a norte, e a que ligava Iaegitania, a sul. Não se sabe os locais exactos dos cruzamentos, mas tudo indica que a norte seria algures perto da actual Bobadela. Quanto aos vestígios da calçada romana original, eles podem encontrar-se na área das Calçadas, onde estiveram na origem deste nome, e dispersos em pequenos vestígios até à zona da Portela do Arão, tratando-se da mesma estrada. A título de curiosidade, informa-se que a estrada romana foi utilizada desde que foi construída, provavelmente por volta de finais do século I antes de Cristo, até à década de trinta do século XX quando entrou em funcionamento a actual EN231. Sem a estrada romana teria sido impossível o já por si grande feito de Loriga se tornar um dos maiores pólos industriais têxteis da Beira Interior durante o século XIX.

Mais Apontamentos - Vestígios Romanos *

Lorica era como se disse o antigo nome de Loriga, durante o Império Romano, situada numa colina abraçada por duas ribeiras, era atravessada pela estrada romana. Tinha duas pontes romanas, uma delas ainda existe, e a outra, construída sobre a Ribeira de S.Bento, ruiu no século XVI, e ambas faziam parte dessa estrada romana que ligava a povoação ao restante império romano. A ponte romana que ruiu estava situada a poucas dezenas de metros a jusante da actual ponte, também construída em pedra mas datada de finais do século XIX. A antiga estrada romana descia pela actual Rua do Porto, subia pela actual Rua do Vinhô, apanhava parte da actual Rua de Viriato passando ao lado da povoação então existente, subia pelas actuais ruas Gago Coutinho e Sacadura Cabral, passava na actual Avenida Augusto Luis Mendes, na área conhecida por Carreira, seguindo pela actual Rua do Teixeiro em direcção à ponte romana sobre a Ribeira de Loriga, também conhecida por Ribeira da Nave e Ribeira das Courelas. Entre a capela de S.Sebastião e o cemitério, existia um troço de calçada romana bem conservada que não deixava dúvidas a ninguém sobre a sua verdadeira origem, mas infelizmente uma parte foi destruída e a restante soterrada quando fizeram a estrada entre a Rua do Porto e o cemitério. O património histórico nunca foi estimado em Loriga. Numa zona propositadamente conhecida por Calçadas, já afastada da vila, ainda existem vestígios bem conservados do primitivo pavimento da estrada romana.

* Pesquisas de António Conde - (Registado aqui - Ano de 2010)


Os Registos escritos da História de Loriga

Não parece restar qualquer dúvida, que muitos documentos ou mesmo simplesmente registos, referentes a Loriga, foram desaparecendo de forma estranha e até suspeita.
Esses desaparecimentos foram acontecendo através dos tempos, mas mais acentuados em meadas do século XIX, aquando da reforma dos concelhos. Alguns até, ao encontrarem-se na Torre do Tombo, nem por isso escaparam.
Mesmo assim, de uma ou de outra forma, lá se vão encontrando alguns registos, que no entanto são muito pouco para uma localidade antiquíssima, como é Loriga.

Viriato - O grande leader dos Lusitanos *

Todos os grandes historiadores, começando pelos romanos antigos, elogiam as grandes qualidades de Viriato. Nelas se destacam, a inteligência, o humanismo, a capacidade de liderança, e a sua grande visão de estratega militar e politico.

A este grande homem, que liderou os antepassados dos portugueses, os Lusitanos, os romanos só conseguiram vencer recorrendo à vergonhosa traição cobarde.
Este homem, tal como muitos outros que ficaram na história, tinha origens humildes, provando-se na época, tal como hoje, que as capacidades individuais não dependem do estrato social, nem das habilitações académicas. Viriato, era apenas um pastor, habituado desde criança a percorrer as altas montanhas dos Hermínios (actual Serra da Estrela), onde nasceu, e que conhecia como a palma das suas mãos. Conhecia inclusive as povoações lusitanas da serra, como Lobriga à qual os romanos puseram o nome de Lorica (nome de antiga couraça guerreira) devido à sua posição estratégica na serra e por ter sido um forte bastião da resistência lusitana. A povoação surgiu originalmente no mesmo local onde está o centro histórico da vila, uma colina entre duas ribeiras.

Do latim Lorica, derivou Loriga, com o mesmo significado, sendo um caso raro de uma povoação que mantém o mesmo nome, praticamente inalterado, há dois mil anos, nome que é altamente significativo da sua história e da sua antiguidade (por isso a couraça é a peça central e principal do brasão histórico da vila).

* António Conde - (Registado aqui - Ano de 2006)


Viriato nasceu em Loriga - Mito ou Realidade

Nos registos antigos o nome era referenciado Viriatus, e ficou conhecido na história como uma figura de grande relevo nos Montes Hermínios (hoje Serra da Estrela) foi pastor, guerreiro, chefe e Rei dos Lusitanos.
Foi assassinado pelos seus próprios companheiros, chamados Andas, Pitalco e Minuro, depois de os Romanos os terem subornados, com promessas de uma recompensa, que nunca chegaram a receber.
O facto de não se ter a certeza do local exacto onde tivesse nascido Viriatus, algumas localidades da região da Serra da Estrela (antigos Montes Hermínios) reclamam para si o local do nascimento dessa figura histórica.
Ao longo da história, vamos também dando conta de dados referentes a uma ligação entre Viriato e
"Lorica" ou "Lobriga" pois era assim que os Romanos chamavam a Loriga. Por isso o parecer existir nos Loriguenses uma forte convicção de que na realidade seria Loriga o berço de Viriato.

Como recortes de história aqui se faz a transcrição de um registo existente no Livro Manuscrito História da Lusitânia, pelo Bispo Mor do Reino em 1580.

...Sucedeu o Pastor Viriato natural de Lobriga hoje Villa de Loriga no cimo
da Serra da Estrella Bispado de Coimbra; ao qual tendo quarenta annos de idade
acclamarão Rey dos Luzitanos e cazou em Évora com huma nobre Senhora no
anno 147. Prendeo em batalha ao Pretor Romano Caio Vetílio e lhe degolou
4.000 soldados; a Caio Lucitor dahi a huns dias matou 6.000 mil. Ao capitão
Caio Plaucio matou Viriato mais de 4.000 junto a Toledo. Reforçou-se o dito
Capitão e dando batalha junto de Évora prendeo 4.000 soldados.
No anno 146 o Pretor Claudio Unimano lhe deu batalha e de todo foi destruido
por Viriato que repartio os despojos pelos soldados pondo nos montes mais altos
da Lusitania os eztendartes Romanos.

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Estátua a Viriato em Loriga - Um projecto nunca concluído -

Desde sempre existiu no meio loriguense a ideia e para muitos a convicção, de que Viriato o "redentor da Lusitânia" o grande pastor e guerreiro que combateu as legiões romanas, teve como seu berço Loriga, ainda existindo hoje no meio loriguense essa crença.
Esse mito histórico de que Viriato era de Loriga, nos finais do século XIX e princípio do século XX, era de uma origem comum nobre e heróica no meio loriguense, recorrendo a relatos escritos, pode-se saber que essa ideia era preponderante e generalizada, não só em Loriga como mesmo até pela colónia loriguense sediada no norte do Brasil, propriamente dito na região amazónica, que eram uns visionários e ardorosos defensores dessa ideia, tendo em Jeremias Pina, aquele que tinha a total convicção de que Loriga tinha sido o berço de Viriato.
Através dos jornais na época, Jeremias Pina não se cansava de escrever crónicas sobre esse assunto e sensibilizando os seus conterrâneos na finalidade de imortalizar de uma vez para sempre, aquela crença existente de que Viriato nasceu em Loriga, que para isso era necessário a construção de uma estátua numa praça pública da adorada terra, tendo por volta dos anos de 1907 ou 1908 se reunindo com 14 dos seus conterrâneos, na ideia de fazerem um peditório pela comunidade, de imediato e de forma espontânea logo ali os 14 loriguenses contribuíram com 145 contos de reis.
Na época estava até já definido o local para a colocação do monumento, que se iria localizar no Largo da Carvalha (actual Largo do Santo António) na altura estava já em processo da retirada do cemitério velho que ali existia. No entanto, começaram a surgir alguns problemas burocráticos para logo depois ser notório que a ideia do monumento não seguia em frente, que se viesse a acontecer a construção, colocaria assim Loriga em igualdade de circunstância com as outras localidades, que mesmo hoje reclamam para elas a terra do nascimento do herói Lusitano.
O motivo certo nunca se veio a saber (mesmo até agora nunca foram encontrados registos escritos sobre isso) a razão porque o projecto da construção da estátua ao Viriato ficou pelo caminho, desconhecendo-se até em concreto qual o destino da verba dos 145 contos de reis já existentes para o efeito, havendo hoje quem diga, que como na altura estava em movimento pela colónia loriguense na região amazónica, também uma vontade enorme de angariação de verbas para ajudar a colocação da luz eléctrica em Loriga, tudo leva a crer e baseado nesta ideia, que essa verba foi destinada e enviada para esse novo peditório, visto que parecia ter ficado para segundo plano a construção da estátua ao Viriato, ficando-se assim na memória de se ter perdido uma das maiores oportunidades, para perpetuar em Loriga um herói da região.

Aqui se regista os nomes dos 14 loriguenses da colónia da nossa terra por terras do norte do Brasil, que contribuíram para a construção da Estátua a Viriato, que mesmo não sendo construída, ficou para a história de mais uma acção benemérita dos loriguenses no Brasil, que mesmo estando longe da sua terra não esqueciam o berço onde nasceram e estavam sempre prontos a contribuírem para a valorização e progresso da sua querida Loriga.

- Manuel Jesus de Pina - Augusto Mendes de Gouveia - Carlos Lopes de Brito - António Luís M. Pina Jorge - Jeremias Pina - José Alves Nunes de Pina - Augusto Moura Pina - António Pina Pires - João Luís Moura Pina - Manuel Moura Pina - António L. M. Pina - António M. Cabral - Alfredo M. Frade - José L. Moura.

(Registado aqui - Ano de 2007)


Referência antiga sobre Loriga

Um dos registos antigos da história de Loriga, é aquele que vamos encontrar nas Inquirições de 1258, mandadas fazer pelo Rei D.Afonso III, que tinha como objectivo averiguar judicialmente a natureza das diversas propriedades e dos direitos senhoriais, a fim de fazer restituir à Coroa Real os direitos que as classes privilegiadas vinham desde à muito usurpando ilegitimamente.
Os inquiridores na região de Seia registaram que as herdades dos fidalgos estavam todas sujeitas a encargos perante o Rei exceptuando as que haviam pertencido a D.João Viegas, com o alcunha de "Ranha" e assim mencionado:

("excepto Sandimir et Loriga et aliae que fuerunt de donno Johanne Rania")

D.Afonso Henriques por carta de 16/5/1131 entregou a posse de muitas terras do actual concelho de Seia a D.João Viegas "Ranha" por este o ter ajudado a vencer dois fidalgos senenses (Aires Mendes e Pêro Pais) que se tinham revoltado contra ele.

(Registo na Monografia da Freguesia de Sandomil de Dr.António Herculano da Paixão Melo) - (Registado aqui - Ano de 2005)


Segundo se sabe, Loriga já tinha foral em 1222, sendo este um dos documentos mais importante desaparecido.


Documento antigo sobre Loriga

Um dos registos mais antigos, como documento, que até hoje parece existir sobre Loriga, é o da confirmação da doação da Jurisdição Civil e Criminal de Loriga a Álvaro Machado datado de 22 de Agosto de 1474, que a seguir se transcreve:

"Dom Manuel por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves daquem e dalém mar em Àfrica, a quantos esta carta virem fazemos saber que a nós foi apresentada uma carta que tal é:
Dom Afonso.... A quantos esta carta virem fazemos saber que confirmando nós a acareação que feita temos, em Àlvaro Machado fidalgo da nossa raça e aos serviços que dele e de seu pai temos recebido e esperamos que ao adiante nos faça, temos por bem dar-lhes que ele tenha o uso de nós, em toda a sua vida, à jurisdição civil e criminal do lugar de Loriga que ele de nós tem. Ressalvamos para nós a correcção e alçada.
E porém, mandamos a todos os nossos corregedores, juízes de justiça oficiais e pessoas que isto ouverem dizer e esta nossa carta for mostrada que lhe deixem usar a dita jurisdição, como dito é, sem lhe porem sobre isso qualquer embargo porque assim é a nossa mercê, de lhe assim ser feito sem embargo de qualquer lei de direito canónico e civil, grossas propensões de doutores que em contrário disso seja"
Dada em Lisboa aos 22 dias de Agosto, Cristóvão de Barros a fez no ano de 1474.

Esta carta foi confirmada ainda por solicitação de Álvaro Machado nos seguintes termos:
Pedindo o dito Álvaro Machado que lhe confirmássemos a dita carta e visto que nós seu requerimento, querendo-lhe fazer graça e mercê temos por bem lha confirmarmos e a havermos por confirmada da maneira que dito é: E porém mandamos os nossos editais para a justiça que assim lhe cumpram e façam muito inteiramente cumprir e guardar.
Dada em Lisboa, aos nove dias de Maio João Pais a fez, no ano de 1497.

Este documento que se pensa ser o mais antigo, foi publicado no Jornal "A Neve" em Março de 1949.

(Registado aqui - Ano de 2006)


Significado da palavra "Loriga"

"Saio de malha usado pelos antigos guerreiros, coberto de lâminas de aço ou escamas de ferro"
Primitivamente era fabricada de loros ou correia de couro crú (couraça quitinosa que envolve o corpo
de alguns animais invertebrados como por exemplo, os rotiferos) e de tal maneira entretecidos que ficavam impenetráveis.


Loriga sede de Concelho

Loriga e área envolvente era couto senhorial no século XII, revertendo para a coroa em 1249, quando foi transformada em vila e concelho por foral de D. Afonso III.
Em 1474, D. Afonso V, concedeu-lhe novo foral e Loriga que pertencia à Coroa foi doada ao fidalgo Álvaro de Machado, como recompensa pelos serviços prestados ao rei.
No ano de 1514, D. Manuel I deu à vila de Loriga um novo foral, o último e o mais completo dos Forais Régios, que chegou aos nossos dias.

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Loriga, foi Sede de Concelho por concessão do foral por D.Manuel I, em 15 de Fevereiro de 1514. Sendo extinto em 24 de Outubro de 1855.

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Loriga foi sede de concelho desde a outorga do foral, por D. Manuel I, em 15 de Fevereiro de 1514, até à data da sua extinção, ocorrida em 24 de Outubro de 1855. Tinha Câmara Municipal, cadeia e pelourinho, monumento este que terá desaparecido durante o século XIX.

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A orgânica de Loriga até 1855

Tinha no seu governo civil:- Um Juiz Ordinário, dois Vereadores, um Procurador do Concelho, Escrivão da Câmara, um Tabelião, um Alcaide, uma Companhia de Ordenanças com Capitão-Mor e Sargento-Mor.

Possuía Câmara Municipal e Cadeia que, segundo consta, a espessura das suas paredes era de 1,80 metros. Em 1881, os registos dão-nos conta do local exacto onde se encontrava o referido edifício:
".....na parça d´esta vila, que parte a nascente, poente e norte com via pública e do sul com José dos Reis de Loriga".
Após a extinção do Concelho de Loriga (1855) o referido edifício serviu de escola primária do sexo masculino, tendo depois sido comprado, na última década de 1890, pelo industrial loriguense Manuel Leitão, que depois o transformou, nessa altura encontrava-se já em ruínas
.

Tinha ainda o Pelourinho, formado por uma coluna de pedra oitavada, com uma argola de ferro forjado, tendo por base três degraus e era encimado por uma pedra quadrangular e ostentando as armas da Vila.

Chegaram a fazer parte do Concelho de Loriga as povoações de:- Valezim; Sazes da Beira; Vide; Alvoco da Serra; Teixeira; Cabeça e ainda pequenos lugares ou casais como eram assim chamados.

O Concelho de Loriga começava na zona das Pedras Lavradas, até à Portela de Loriga (Arão) onde fazia fronteira com o couto de S.Romão. De 1842 a 1855 ultrapassava a Portela, por ter sido nessa altura anexado ao concelho de Loriga, o concelho de Valezim.
Alvoco da Serra deixou de pertencer ao Concelho de Loriga em 1514, data em que recebeu o Foral, mas voltou a ser incluído novamente no mesmo em 1828. Com a reforma administrativa de 18 de Julho de 1835, Alvoco da Serra voltou a ser Concelho, para depois com o código administrativo de Costa Cabral, de 18 de Marco de 1842 deixar de ser concelho e ficar a pertencer novamente ao concelho de Loriga..

Vide excluída do concelho de Loriga no século XVII, viria a ser novamente incluída em 1834.

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Documentos históricos relacionados ao Foral atribuido a Loriga pelo Rei D.Manuel em 1514

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FForal dado ao Concelho de Loriga
Dom Manuel, etc.

Pagara toda pessoa que laurar com Jugada de bois ou vacas doze al-
queires desta medida corrente todos de centeo et se laurarem com hü boy a
meatade et seo seareiro et cauam que laurar pam, pagara da medida velha
hü alqueire et nam se paga no dito lugar foro outro de nehüa causa que se-
mea nem colham assy do vinho et linho como de todalhas outras nouidades e
fruitas.
E pagaram mais ao senhorio da dita Terra os foros de denheiro et ga-
linhas que algüas pessoas lhe pagam sem serem a ysso mais obrigados as pes-
soas que os ora nam pagam ficando rresguardado a hüs et aos outros quan
ao mostrarem foral lhe seer per elle guardada sua justiça. Nom ha montado
nesta Terra por quato no veraão amda com ho outro nosso da serra. Et no
Ynuerno nam ha hy nehü pasto. Os manihos sam do concelho com o foro da
Terra. A pensam do tabaliam pagase em sea. Da pena darma se leuaram du-
setos Reaes e as armas perdidas s quaaes penas se nom leuarem quando apu-
nnarem espada ou qualquer outra arma sem atirar, nem sem preposito em
Rexa noua tomarem praao ou pedra posto que fezerem mall et posto que de
proposito as tomem senom fazerem mal com ellas nam pagaram. Nem a pa-
gara moço de quinze annos pera baixo nem molher de qualquer idade e fi-
lhos et escravos tirarem sangue. Nem os que sem arma tirarem sangue com
bofetada ou punhada nem quem dfendimento de seu corpo ou por apartar e
estremar outros em arroydo tirarem armas posto que com ellas tirem sangue
hem escravos de qualquer idad que sem ferro tirar sangue. O gado do vento
he de direito Real et arrecadarsea na dita villa per nossa ordenaça com de-
caçam que a pessoa a cuja mão for ter escreuer a dez dias priemeiros seguin-
tes so pena de lhe ser demandado. Portagem no se levará mais no dito lu-
gar por que nam se mo trou titollo nem tall posse para se deve de levar. A
qual quer pessoa que for contra este nosso forall leuando mais dereitos dos
muy nomeados ou leuando destes mayores conthias das aquy decraradas ho
annos por degra dado hu anno ffora da villa et termo et mais pagara da ca-
trinta reaes por hu de todo que assy mais leuar. Et se a nom quizer leuar se
ja a metade pera os cativos et a outra para quem ho acusar. Et damos poder
a quall quer Justiça honde acontecer assy quiser como vintaneiros ou quadri
lheiros que sem mais proceso nemhordem de juizo sumariamente sabida a
verdade comdenem os culpados no dito caso de degredo et assy do denheiro
atee nous mill rreeas sem apelaçam nem agravo et sem disso poder conhecer
almoxarife nem contador nem outro oficial nosso de nossa fazena em caso
que o hy aja & seo senhorio dos ditos dereitos o dito forall quebrantar per si
ou outrem seja logo sospenso delles et da jurdicam do dito lugar se at uer
emquanto nossa merecê for & mais as pessoas que em seu noou por elle o
fazerem encorreram nas ditas peas & almoxarifes se primace e officiaes dos
ditos direitos que o assy nom comprire perderam os ditos officios et nam que-
ram mais os outros. & portantomandamos que todollas cousas contheudas
neste forall que nos poemos por ley se cumpram para sempre do theor do
quall mandamos fazer tres hü delles para a camada villa & outra para o Se-
nhorio dos ditos dereitos. & outra para a nossa torre do tombo pera em todo
tempo se poder tirar quall quer duuida que sobre isso possa sobreuir, dada
hanossa muy nobre et sempre leal cidade de Lixboa aos quinze dias do mes
de feuereiro era do açimento de nosso Senhor ihü xpõ de myll quynhentos et
quatorze annos. E sobscprito por fernam de pina
Em oito folhas.

(Documento histórico de alta transcendência para Loriga, reproduzido na integra, respeitando o português arcaico)

(Registado aqui - Ano de 2000)


Alguns aspectos da evolução histórica do Concelho de Loriga

I - Loriga - Sede de Concelho

" … Pelos forais se foram validando os costumes locais, garantindo a povoação de terras, defendendo-se contra as prepotências senhoriais e fixando pela segurança da propriedade a vida particular da família..." Teófilo de Braga in "História do Direito Português" f.12 e mais adiante, f.115:
"... Do reinado de D. Manuel em diante as cartas de foral alcançaram um sentido inteiramente diferente do que até então tinham; perderam o carácter de códigos municipais e políticos para conservarem apenas o carácter de escrituras de obrigação enfitêutica dos povos com a coroa..."
É neste contexto que deve ser integrada a concessão do foral dado em Lisboa, por D. Manuel a 15 de Fevereiro de 1514 (Livro dos Forais novos da Beira, fl.84, col. I) à vila de Loriga. O Foral consta de um certo número de leis, é um documento jurídico, que se destina a regular a vida colectiva de uma povoação nova ou já existente, formada por homens livres.
É uma lei escrita, orgânica, é orientada sistematizadora e normativa de um determinado agregado social. Existindo vários tipos de forais, o de Loriga pertenceu ao chamado "foral breve".
É um documento histórico do mais alto alcance, já que reflecte uma organização, já que nos permite uma reflexão sobre a organização sócio-económico e politica de Loriga no século XVI.
A preocupação tributária de D. Manuel, alicerce económico da sua politica centralizadora, está presente no início do foral dado ao Concelho de Loriga, especificando as medidas de centeio que toda a pessoa que lavrar com junta de bois ou vaca terá que pagar.
Registe-se que o cereal dominante é o centeio próprio das terras altas, apesar de a cultura do chamado "milho-maíz" ter sido introduzida em Portugal nesses mesmo século XVI.
O foral concedido a Loriga evidencia todo um ambiente de pastores e criadores de gado, onde a agricultura subsidiava uma economia mais ou menos fechada. Para além dos gados e centeio, são ainda referidas a cultura do linho e trigo.
Menciona-se o
gado do vento, isto é, o gado sem dono ou pastor, gado perdido; a pena de armas que equivale à usada nos forais velhos com pena de sangue e hodiernamente conhecida por crime de ofensas corporais; o montado, normalmente possuído entre vizinhos segundo usos e costumes; e os maninhos, logradouro público de lenhas de pastagens.
Como sede de concelho, Loriga passou a usar as prerrogativas municipais, mais tarde descritas pelo Padre Cardoso nas "Memórias de Loriga", por ocasião do terramoto de 1755, por ordem do Marquês de Pombal, que se encontram manuscritas no vol. 21, página 1148:

"... Tem esta vila Juis Ordinário, Veriadores, Almotacé, Procurador, Oficiaes. E Escrivam o coalçe acha vago. De Escrivam Proprietário estas justisas nam esta msugeitas ao outras justisas doutra terra, exseto a Sua Magestade ..." (sic)

Tinha ainda uma Companhia de Ordenanças, que era uma organização militar das forças do reino, dirigidas por um capitão-mor, que dirigia também a Companhia de ordenanças de Alvoco. Esta companhia de Ordenanças tinha ainda um comandante, um alferes um sargento, um meirinho e um escrivão, sendo as esquadras comandadas por cabos.
Contrariamente ao foral concedido a Valezim, não há no foral de Loriga elementos concretos que nos levem a crer que esta vila já era concelho chamado
"foral breve" aquando da concessão do foral de D. Manuel.
O senhorio primitivo de Loriga, segundo nos referem as inquirições de D. Afonso III, era D. João Rama:

"...ire a de hereditates militum et ordinun de tota terra de Sena exceptis illis hereditabus quas reges fecerunt exerte per suas cartas et exceptus Sandimir et Loriga, et allie que sunt de dono Johanne Rama"... (Inquirições de D. Afonso III - livro 3, fl.I 1º. Vol)

II - Algumas referências docummentais - século XVII

Segundo a "Descrição do Reino de Portugal" de Duarte Nunes de Leão, com data de 1610, Loriga era concelho na correição da Guarda. Nada sabemos sobre quantitativos correctos populacionais, porém opinamos que a população terá diminuído, visto que o século XVII é, em movimento secular, de crise, com tendência para baixa, quer no plano económico, quer no demográfico, com depressões mais ou menos acentuados. Por isso, Loriga deverá ter acompanhado essa tendência. Contudo continuava a usufruir das suas prerrogativas administrativo-judiciais adquiridas por outorga da carta do foral por D. Manuel, em 1514. Assim, segundo a "avaliação do rendimento dos ofícios da Comarca da Guarda" feita em 1689, "...na villa de Loriga (...) " -Capitão tem honorífico quatro mil reais: Juíz Ordinário e orphaes teem de emolumentos cada hum dous mil reais; Escrivão de camara e o Tabelião do Judicial e notas quhe serve também da Almotacaria e orphãos na vila de Alvoco tem de emolumentos trinta mil reis; Avaliador dos Orphãos tem emolumentos mil reis; Escrivão das sisas tem de ordenado e emolumentos nove mil reis.

(Registado aqui - Ano de 2004)


"Extinção do Concelho de Loriga"

Loriga deixou de ser Sede de Concelho, em 24 de Outubro de 1855, passando a partir dessa data a fazer parte do Concelho de Seia.

Loriga foi sede de concelho desde a concessão do foral por D. Manuel I em 15 de Fevereiro de 1514 e foi extinto em 1855, passando a partir daí a fazer parte do concelho de Seia. Como é sabido os concelhos nesses tempos e ao ser atribuídos pelos reis através dos séculos, nada têm a ver como hoje se processa, os concelhos eram pois resumidos a pequenas regiões e até condados e no ano de 1832 existiam em Portugal nada menos que 796 concelhos.
O Ministro Passos Manuel implantou um decreto alterando a orgânica do nosso país resolvendo acabar com alguns concelhos e de uma só vez extinguiu 455 municípios, onde foi incluído o concelho de Loriga, ficando então o reino dividido em 341. Entretanto os concelhos foram diminuindo e em 1878 o país estava dividido em 17 Distritos e 299 concelhos no continente e ilhas (263 eram no continente).
No entanto parece nunca ter ficado bem esclarecido a finalidade da extinção do nosso concelho, se de facto se deveu a esse decreto implantado da nova alteração a proceder na orgânica do país, ou se ficou a dever-se a aspectos políticos, uma suspeita que ficou nos Loriguenses se levarmos em conta do partido e da posição tomada na nossa terra quando das lutas liberais, que parece ter sido levado em conta para extinção de alguns concelhos.
Mas qualquer que fosse a razão em 29 de Abril de 1855 começou a desenrolar-se a Extinção do nosso Concelho e essa extinção oficial ficou confirmada precisamente em 24 de Outubro desse ano, data que para todos os efeitos é a que consta em todos os registos. Como curiosidade para a história da nossa terra seguidamente vou aquí registar na íntegra e tal como se escrevia, nesses tempos, uma das actas respeitante à extinção do Concelho de Loriga:

"ARQUIVO MUNICIPAL"

Acta escrita no "Arquivo Municipal" ...........Extintos Concelhos.....
Extinto Concelho de Loriga-Pasta n.1 -Livro n.2 - Folhas 193 e seguintes: Livro das Sess
ões da Câmara de Loriga....

"Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos cincoenta e cinco aos vinte e nove dias do mez de Abril do dito anno, nesta Villa de Loriga e Casas de Despacho da Camara, aonde se achavão prezentes seus Membros abaixo assignados a saber: António Mendes Lages, António Mendes Galvão, António João de Castro, bem como Placido Luiz de Brito veriador da Camara transacta que havia sido convocado para assistir a este acto, no impedimento do actual veriadior Sebastião de Pina que havia participado achar-se impossibilitado; faltando o Prezidente Alfredo Freire Calheiros por se ter auzentado para Caza do sitio denominado a "Malhada das vacas" deste Concelho, logo pelos Membros prezentes assima referidos foi ditto que tendo elles, bem como o sobredito Prezidente,Administrador do Concelho Luiz Marques da Fonseca, Juntas de Parochia da Freguezia de Santa Maria Maior desta Villa, Vallezim e sua annexa São Romão da Cabeça, e bem assim os informadores previamente convocados, em virtude do officio sob o Numero cento quarenta e seis, com data de vinte e sete de Fevereiro próximo passado, do Excellentissimo Governador Civil deste Districto e requerimento junto ao mesmo, das Juntas de Parochia da freguezia de Vallezim, procedido à divizao e demarcação dos lemites das Freguezias de Santa Maria Maior de Loriga e São Romão da Cabeça que se achavam em comum, por ser esta Filial daquela e sendo primeiramente examinado attentamente de ambas as Freguezias, attendendo á extenção d!ellas e população de cada uma das duas Freguezias, seu comércio e necessidades de lenhas em virtude delle, pasto necessário para os gados de cada uma das freguezias e mais circumstancias a que erm tais casos ha necessidade comprender circumspectamente, se fez aquella divizão e demarcação pela maneira seguinte: --Fica sendo limite privativo da Freguezia de São Romão da Cabeça o terreno que confina com limite de Concelho de Sandomil a principiar no alto do sitio da "malhada das vacas" aonde está uma "Cruz" denominada "do Lemos" para o lado do Ocidente em direcção á Gesteira, Malhada Cazinha, pedra redonda, Seladinha; e fundo da Tapada da Barroca dos Castanheiros, seguindo o cume do oiteiro longo em direcção á Ribeira, pela Barroca do leitão a sima em direcção ao sul, fazendo no simo da sobredita Barroca demarcação o caminho que vai desta Villa para a povoação da Barrioza deste mesmo concelho, o que tudo se acha demarcada com os competentes marcos de pedras e cruzes que naquelle acto foram postos para maior clareza daquella demarcação ficando assim todono lado do Ocidente pertencendo, das demarcções para baixo á Freguezia da Cabeça e para sima á freguezia de Loriga de para constar se lavrou a prezente que vai pelos Membros da Camara assignada, mandando-se extrair as devidas Copias para os effeitos convenientes e eu António Luiz Mendes Escrivão da Camara que eu escrevi.-----------------------------------------------------------------"

---------- Pta.2 Livro 2. Fas.193 e seg.es.--------

(Registado aqui - Ano de 2003)


No ano de 1832, existiam nada menos de 796 concelhos no reino de Portugal. Por volta de 1855, com a alteração orgânica do país, foi pensado acabar com alguns concelhos e até condados. Por decreto-lei do ministro Passos Manuel, viriam a ser extintos, de uma só vez 455 municípios, onde foi incluído o de Loriga. O reino, passou então a ter 341 concelhos que foram progressivamente diminuindo. E, no ano de 1878, o país estava dividido em 17 Distritos e 299 concelhos, no Continente e ilhas, dos quais 263 eram no Continente.

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Nota:- Baseado em relatos e registos da época, pensa-se que a extinção do concelho de Loriga, não se deveu só ao facto da alteração orgânica do país.
Loriga que vinha sendo sede de concelho desde o século XIII, pagou caro o apoio dado aos "absolutistas" contra os "liberais". Numa época em que a consciência democrática era inexistente, havia retaliações para quem tinha ideias diferentes das de quem detinha o poder.
Por isso, pensar-se que a extinção do Concelho de Loriga, teve mais haver com vingança politica e interesses expansionistas de quem beneficiou com o facto, por isso ter sido uma verdadeira injustiça.

(Registado aqui - Ano de 2003)


Alguns dados complementares relacionados aos Concelhos da região no século VII

A reforma administrativa de 18 de Julho de 1835 atribuiu ao Distrito da Guarda 77 concelhos, entre os quais figuraram 12 do actual Concelho de Seia, - Para além do de Seia os de Alvoco da Serra; Ervedal da Beira; Loriga; S.Romão; Sandomil; Santa Marinha e Castro Verde; Torroselo; Valezim; Várzea de Merugem, Vide da Foz do Piodão e Vila Cova à Coelheira.
Posteriormente pelo código administrativo de Costa Cabral de 18 de Março de 1942 aqueles 77 ficaram reduzidos a 30. Dos doze acima citados, para além do de Seia apenas subsistiram o de Ervedal, Loriga e o de Sandomil, ou seja foram extintos os outros 9 restantes.
A Seia ficaram adstritos São Romão, Santa Marinha e Várzea; a Loriga ficaram ligados Alvoco da Serra, Valezim e a Vide; Sandomil anexou Torroselo, Vila Cova à Coelheira.
Uma outra lei publicada em 31 de Dezembro de 1853, viria a englobar no concelho de Sandomil os então extintos concelhos de Penalva de Alva e de S.Sebastião da Feira, hoje incluídos no concelho de Oliveira do Hóspital.
Por último, o Decreto de 24 de Outubro de 1855, estabeleceu os 14 concelhos que ainda hoje compõem o Distrito da Guarda. Foram então extintos os de Loriga e Sandomil, engrossando o concelho de Seia, enquanto o de Ervedal da Beira passou a pertencer a Oliveira do Hospital

(Registo na monografia do "O Actual Concelho de Seia" de Dr.António Herculano da Paixão Melo) - (Registado aqui - Ano de 2005)


Loriga minha Terra

Vila de Loriga

Vista Parcial de Loriga


Vila de Loriga - Ano 1758 *

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Resposta do vigário de Loriga ao interrogatório de 1758
(A.N.T.T.- MEMÒRIAS PAROQUIAIS, Vol.21, m. 124, fl. 1147-1153)

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Loriga
C.Guarda BC

REV.º SR. DR. PROVISOR

Satisfazendo ao cumprimento desta ordem, pelos interrogatórios expedidos, de tudo o que consta ser esta freguesia e todo o seu termo, declarando tudo pelo miúdo, na verdade e inteiramente do que é chamado tema se dizer o seguinte:
1 - Que esta freguesia da Vila de Loriga é de Província da Beira e do Bispado de Coimbra, comarca da cidade da Guarda, termo desta mesma Vila.
2 - Esta Vila é, e sempre foi de sua Real Magestade.
3 - Consta esta Freguesia ter cento e outenta e quatro vizinhos e número de pessoas seiscentas e outenta.
4 - Está situada esta Vila em o meio de sete cabeços: três para parte de nascente, chamados um a perna de um homem pintada ou esculpida em uma fraga do mesmo cabeço; outro chamado a penha do gato, tem este nome por se achar nele algum dia a figura de um gato esculpida; outro chamado a fermosa, não consta de onde tomou este nome. Tem dois para a parte do poente, um chamado a penha de águia e outro o cabeço do castelo, tomou este nome do tempo dos mouros ainda hoje conserva nele vestígios dos alicerces dos muros; tem outros dois, um para a parte do norte chamado o cabeço de São Bento por nele se achar uma imagem do glorioso São Bento; outro da parte sul chamado a pedra incavalada, por ter uma grande pedra atravessada no cimo do dito cabeço; e desta Vila ao cimo de todos estes cabeços dista meia légua e da vila não se descobre povoado.
5 - Tem esta Vila termo seu, compreende somente o Casal da Cabeça, consta dezasseis vizinhos.
6 - A Paróquia está situada no meio da Vila. Tem a freguesia o dito lugar da Cabeça e o Casal do Fontão, obrigados a esta freguesia; consta este Casal de seis vizinhos e pertence ao termo de Alvoco da Serra.
7 - O Orago desta freguesia é a Senhora Santa Maria Maior. A Igreja tem cinco altares: um de S. Bento, outro de Santa Luzia, outro de Nossa Senhora do Rosário e outro das Almas, tem uma só nave e não tem irmandade alguma.
8 - O Pároco é vigário, é da apresentação de Sua Real Magestade, tem quarente mil reis de côngrua e meio de vinho para as missas.
9 - Não tem beneficiados, porém apresenta o curato da Vila de Alvoco da Serra, que dista uma légua desta Matriz.
10 - Não tem conventos.
11 - Não tem hospital.
12 - Não tem misericórdia.
13 - Tem cinco ermidas; duas na Vila, uma de Santo António, ao cimo da Vila, outra de S. Gens a um lado da Vila, outra de S. Sebastião, duzentos passos distante da Vila no caminho que vai para a Vila de Valezim, tem outra no Casal da Cabeça com a imagem do Glorioso São Romão e outra no Casal do Fontão com uma imagem do glorioso Santo António; todas pertencem ao povo.
14 - Não acodem a estas ermidas romeiros em tempo algum do ano.
15 - Os frutos da terra que os moradores recolhem são centeio e castanhas, porém não é suficiente para se sustentarem os moradores da terra.
16 - Tem esta Vila Juiz Ordinário, vereadores, almotacém e procurador, e oficial escrivão, o qual se acha pago de escrivão proprietário; estas justiças não sujeitas, digo não estão sujeitas a outras justiças de outra terra, excepto a Sua Magestade.
17 - Não é couto, nem cabeça de outro concelho, honra ou beetria.
18 - Não consta que desta Vila saíssem homens insignes por virtudes, nem letras; só consta que o grande Viriato, insigne nas armas, nascera em esta terra, porém não há memória disto mais do que falar o dando por seguido que ele nascera em estas terras ou serras.
19 - Nesta Vila não há feira alguma.
20 - Também não tem correio; esta Vila se serve do correio de Seia que dista três léguas desta Vila.
21 - Dista esta Vila da cidade de Coimbra catorze léguas e da de Lisboa quarenta e quatro.
22 - Não tem esta terra previlégios, antiguidades, nem outras cousas dignas de memória.
23 - Não há nesta freguesia lagoas, sim partem como termo, de que dão conta o prior de S. Romão e o Vigário de Seia por serem do seu distrito. Há uma fonte chamada dos pérus? de qualidade tão fria que não pode consentir uma mão dentro dela por espaço de cinco minutos.
24 - Não tem esta freguesia porto do mar.
25 - Não tem muros, nem precisa deles, porque ainda que venha todo o poder das armas do mundo não derriba os setes cabeços.
26 - Padeceu ruína a Capela Mor desta Igreja em sua abóboda e paredes de tal sorte que não conserva o Santíssimo Sacramento nem imagens algumas na dita Capela, pelo evidentíssimo perigo que o restante se está vendo em cair a dita capela de que já dei duas contas à Mesa da Consciência e tenho certeza de que foram entregues, porém até ao presente se não passou provisão para se repararem as ditas ruínas, como também o retábulo da dita Capela que se acha todo desbaratado e a casa da residência toda especada para a parte da rua, que já lhe caiu numa grande parede por causa das ruínas que causou o grande terramoto do primeiro de Novembro de mil setecentos e cinquenta e cinco: e mais algumas casas desta freguesia; as ruínas da Igreja e casas da residência, é obrigado a mandar reparar o Excelentíssimo Senhor Monteiro-Mor deste Reino, como Comendador que de presente é desta Igreja.
27 - Não há mais de que se faça memória que aqui possa dizer a estes interrogatórios.

Notícia da Serra deste termo e freguesia

1 - Chama-se esta Serra o Malhão da Estrela.
2 - Tem esta serra duas léguas de comprimento e uma de Largura. Principia à fonte dos pérus? e acaba na Vila da Covilhã.
3 - O principal braço desta Serra um sitio onde estão duas fragas muito eminentes chamados os Cântaros.
4 - Desta Serra nasce uma Ribeira chamada Ribeira dos Covelos, a qual vem por entre fragas uma légua, passa junto desta Vila, esta de verão enche à tarde com muito ........................ por respeito da muita neve que na mesma Serra se derrete, que em sitios se não acaba de derreter em todo o verão. Corre esta de nascente para poente, mete-se na Ribeira d´Alva na Vila da Vide. Esta Ribeira não tem navegação.
5 - Esta Serra não tem lugares nem povoações.
6 - Não há mais fontes notáveis neste distrito do que o que acima foi nomeado.
7 - Não consta haver nesta Serra minas de metais e menos canteiros de pedras ou de outros materiais de estimação.
8 - Esta Serra tem plantas de Zimbro que dá suas bagas estimáveis para flatos e outras curas medicinais; também nela nasce uma erva chamada argensana muito aprovada para dores especialmente para mulheres; esta se cria sem cultura alguma, entre fragas muito despinhadas; tem bastantes pastos para gados porém é infrutífera ainda que se cultive.

9 - Nesta serra não há mosteiros nem Igrejas e menos Imagens milagrosas.
10 - O seu temperamento é muito frio, porque nela se não pode estar quedo por maior calor que faça. Nem qualidade ..................... alguma e só nela vão pastar gados miúdos de Agosto até Setembro.
11 - Não há nela criações de gados nem outros animais.
12 - Não tem alagoas neste nosso termo porque elas pertencem a outros termos.
13 - Não sei que estas Serra tenha cousas mais dignas de memória; somente o avistar-se dela as praias do mar.

Relação dos Ribeiros desta Terra

1 - Tem esta Freguesia duas Ribeiras que passam junto à Vila em distância de trinta passos: uma delas é a que acima referi chamada dos Covelos nasce no Malhão da estrela e finaliza na Vila da Vide distancia de três léguas do seu nascimento; a outra chamada Ribeira de S. Bento, principia no mesmo cabeço de S. Bento, e finaliza ao fundo desta Vila meia légua de distância do seu nascimento, encorpora-se com a dos Covelos.
2 - Nascem logo com bastantes águas e correm todo o ano.
3 - Não se metem Rios nem Ribeiros em estas duas que tenho dito.
4 - Não admitem navegação alguma.
5 - São estas duas Ribeiras muito arrebatadas em seu curso desde o nascente até ao fim delas.
6 - Correm ambas do nascente para o poente.
7 - A Ribeira dos Covelos cria algumas trutas desde esta Vila até à Vila da Vide; tem uns poços aonde chamam o Castelejo aonde os pescadores se não animam a fundar? Por serem muito perigosos pela altura colhenças? que tem e ser a água demasidamente fria e neles se tem afogado vários pescadores.
8 - Nesta Ribeira não há pescarias nem se podem fazer; somente em o mês de Setembro, indo cálido se costumam lançar algumas redes.
9 - Estas pescarias destas Ribeiras são livres em toda ela.
10 - Esta Ribeira não tem margens que se possam cultivar, tem algumas árvores de medronheiros e também alguns castanheiros.
11 - Não tem virtudes as águas desta Ribeira mais do que serem frias demasiadamente.
12 - Estas Ribeiras sempre conservaram os seus nomes e conservam de presente.
13 - Já acima disse que estas Ribeiras se metem na Ribeira d´Alva e esta no Mondego e o Mondego na Figueira e da Figueira vai para o mar.
14 - Não tem cachoeira, repressa nem açude, somente algumas levadas para moinhos.
15 - Tem a Ribeira do Covelos uma ponte de cantaria e três de pau; uma onde chamam a canada, outra aonde chamam os pisões velhos e outra ao passar para o Casal da Cabeça e a de cantaria está no caminho que vai para a Vila de Alvoco da Serra. A Ribeira de S. Bento também tem três pontes de pau: uma chamada dos pisões novos, outra aonde chamam o porto, no caminho que vem de Valezim para esta Vila e a outra aonde chamam a ponte do pez.
16 - Esta Terra e Ribeiras tem doze moinhos e três pisões, não há lagares nem noras nem outra casta de engenhos alguns.
17 - Não consta que em tempo algum se tirasse ouro nem casta alguma de metais em as ditas Ribeiras.
18 - Esta Vila e os moradores dela usam livremente das águas destes Ribeiros para alguma hortinha que têm ou algum grão de milho mas é muito pouco porque não têm terra para produzir por serem fragas.
19 - Já acima disse que estas Ribeiras distam três léguas de onde nascem aonde finalizam; passam juntas a esta Vila, uma da parte do Norte e outra da parte do Sul em distância de trinta passos e ambas juntas passam ao pé do Casal da Cabeça e também ao pé da Vila da Vide, onde se mete na Ribeira d´Alva.
20 - Não sei cousas mais notáveis com que melhor possa descrever a planta desta terra, rios dela e os cabeços desta

Fico m.tº. pronto para dar a execussão às ordens de Ex.mo e de Sua Real Magestade Fidelíssima. Loriga 1 de Abril de 1758

Deb.mª.
Sub , gª. M.to Ob.diente

O Vigário João RoJoão Rodrigues Ribeiro

(* Transcrição do Livro "O Actual Concelho de Seia" de António Herculano da Paixão Melo)

(Registado aqui - Ano de 2001)


Nomes dos muitos locais de Loriga

Em Loriga ou olhando toda a sua região envolvente, é de realçar o facto de não haver um simples local que não tenha o respectivo nome. Uns oficialmente registados, outros popularmente assim chamados, não resta a menor dúvida que, muitos desses locais, já eram mencionados nos primeiros escritos conhecidos sobre esta localidade, pelos nomes como ainda hoje são assim chamados.
Poderá haver algum lapso de escrita, uma vez que alguns nomes nunca foram registados, mas sim apenas chamados verbalmente e transmitidos através das gerações.

***

Assim, aqui se registam os nomes dos muitos locais de Loriga e sua da região envolvente. O registo de muitos destes nomes aqui descritos, devem-se também a transmissão verbal *

***

"Adro; Açude; Alcaidas; Almas; Alqueves; Arueiro; Avenal; Azeiral; Bairro; Bairro Padre Lages; Bairro Património dos Pobres; Batista; Bicarões; Baldio das Cascalheira; Barrancos; Barreiras de Coimbra; Barroca; Barroca do Ferreiro; Barroco; Biqueirões; Bouqueira; Breijoeiras; Brejos; Buraca do Teixeiro; Cabecinha; Cabecitos; Cabeço; Cabeço da Malta; Cabeço do Ratinho; Cabo da Carreira; Cabris; Cagoiças; Calçadas; Calhão; Campa; Campo; Canada; Canada do Alqueves; Canada; Carreira; Carreiro de Àlvaro; Canada das Montezinhas; Casa do Guarda; Casa dos Ingleses; Casa dos Velhos; Cascalheira; Casinhas; Carvalha; Chão da Ribeira; Chão das Fontes; Chão das Relvas; Chão de Matias; Chão do Lombo; Chão do Soito; Chão dos Dornes; Cemitério; Cide; Coiço do Barbas; Coiço do Botelho; Combaro do Meio; Combro do Mouro; Cortiçor; Corrisqueira; Coroa de Nossa Senhora; Costeiras; Covão da Ladeira; Duas Pontes; Eira do Alavão; Eira da Pedra; Encerta; Encosta; Enxertada; Escola Nova; Escaldadeiro; Escorial; Etar; Estuvaínha; Falgareira; Fábrica Nova; Fândega; Feiteira; Feital do Coelho; Feiteira; Fontainhas; Fonte dos Amores; Fontes Covilhas; Fonte do Mouro; Fonte da Prata; Fonte dos Carreiros; Fonte Lasquinha; Fonte Longa; Fonte do Sabugeiro; Fonte dos Pais; Fonte do Perús; Fonte do Sapo; Fonte Sagrada; Fonte do Vale; Forcada; Foro; Frádigas; Fraga dos Almoços; Fraga do Padre Nosso; Garganta; Giraldo; Januários; Ladeira; Lages; Lamas; Lameiro Lameais; Lameiro da Barroca; Lameiro da Redondinha; Lameiro do Regato; Lapa da Azinheira; Leirão; Leitões; Lombo Torno; Luzianos; Malhapão; Malhapão da Cabeça; Malhada Chão do Lombo; Malhada do Fontão; Malhada Cimeira; Malhada da Dona Maria; Malhada da Carneira; Malhada Cimeira; Malhada do Corujo; Malhada do Boi; Malhada da Farrancha; Malhada Formosa; Malhada do Poio; Malhada de São Bento; Malhadinha do Grilo; Mestre Brava; Meia Légua; Mingudis; Moenda; Montesinhas; Mourinhos; Oliveira; Outeiro; Outeiro da Borralha; Outeiro da Barroca; Passos do Senhor; Património dos Pobres; Pedrouco; Peliteiros; Penedas; Penedo de Alvoco; Penha D´Águia; Penha dos Abutres; Penha do Gato; Pêro Negro; Perovelho; Picota; Piorca; Piornal; Pisão; Pisão do Barroel; Poço do Ariol; Poço dos Minutos; Poço dos Moinhos; Poço da Covilhã; Poço das Courelas; Poço Forte; Poço das Caneladas; Poço dos Corvos; Poço do João Freire; Poço do Pinheiro; Poço das Meninas; Poço do Caldeirão; Poço do Zé Lages; Poio Mateus; Poleirinho; Pomar; Ponte Nova; Ponte do Arroxo; Ponto Romana; Pomar; Porto; Portela de São Bento; Portela do Arão; Portinho Cego; Portugal; Porvelho; Praça; Presa; Pousinhos; Pousinhos da Ladeira; Quebra-Costas; Quelha do Figueiredo; Quinta da Sónia; Quinta da Sónia; Reboleiro; Redondinha; Regada; Regato; Resteves; Ribeiro da Cerejeira; Ribeiro da Ponte; Ribeiro do Cabrum; Reboleiro; Rodeio Velho; Romeniscais; Rosmaninheira; Safra dos Reis; Sanjoanas; São Bartolomeu; São Bento; São Sebastião; São Ginês; Seabra; Selada; Seixinho; Senhora da Guia; Senhora da Guia Nova; Serapitel; Servoeira; Somora; Surgaçal; Taliscas; Tapada do Ameal; Tapada do Fontão; Tapada do Militar; Tapada; Tapado; Tapada dos Piscos; Tapada Grande; Tapada Sanjoanas; Tapadões; Teixeiro; Terreiro da Lição; Terreiro das Figueiras; Terreiro do Fundo; Terreiro dos Ricos; Timingudiz; Torno; Tresposta; Uchas; Urgueiral; Valado; Vale D.Pedro; Vale da Barroca; Vale da Merenda; Vale dos Alhós; Vale da Barroca; Vale das Videiras; Verdial; Veredas; Vista Alegre; Vinhô; Volta; Zé Lages".

* José C. Pina, António L. A. Tuna, Manuel F. Aparício, Joaquim M. Brito. - (Registado aqui - Ano de 2005)


Loriga - Serra da Estrela

Loriga - Serra da Estrela


Poema a Loriga *
"Minha Terra Natal"

No ventre da montanha nasceste,
e te puseram o nome de Loriga.
Quantos anos tens?.. Quem te apadrinhou
?..
Como nasceste?.. Como cresceste?..
A tua idade se perde na noite dos tempos.
No rasto da tua história de séculos,
deixaste marcas de um honroso passado,
ainda hoje bem visíveis no teu burgo.
E quis a mãe natura emoldurar-te,
num quadro de fascínio e beleza,
tão real, que és uma festa para a vista.
Maravilha do Portugal desconhecido,
ainda hoje esperas que te lancem,
nos caminhos de um promissor futuro.
Tu és montanha, granito, ravina, fraguedo,
cascata, ribeira, socalco, encosta, agreste,
com odor a rosmaninho, urze, giesta, alecrim.
No Verão és terna, fagueira, atraente,
hospitaleira, luz e cor, com cheiro a verde pinho.
E de espectaculares pores do Sol.
Na amenidade do Estio, ouve-se o canto
dos grilos e cigarras e o doce rumor
das tuas águas deslizantes rumo ao mar,
e dos trinados das aves que cantam.
Mas no Inverno, também és, tempestade,
torrente, nuvem, relâmpago, trovão, raio, corisco,
chuva, granizo, neve, gelo e frio intenso.
E continuarás crescendo dentro do espaço,
que a lei natureza te impôs por limite,
cabendo às vindoiras gerações que te esperam,
a preservação da tua imagem física,
continuada através dos tempos sem fim.

*
Um Loriguense


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